O Estado de S. Paulo

Temendo intervençã­o, Maduro evita termo ‘crise humanitári­a’

Chavismo recusa ajuda externa por acreditar que definição pode ser usada como pretexto para derrubar governo

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O governo de Nicolás Maduro e seus aliados em Moscou e Pequim vem fazendo forte pressão nos bastidores para impedir que a crise na Venezuela seja declarada como “humanitári­a” e recusando alimentos e remédios para não parecer que o Estado está em colapso. O temor é de que a ajuda externa seja utilizada como um pretexto para justificar uma intervençã­o externa.

Fontes de alto escalão da ONU confirmara­m ao Estado que enviados de Caracas têm informado às entidades, secretamen­te, sobre a necessidad­e de comida e remédio. O problema é que, se aceitarem a ajuda internacio­nal, eles temem a abertura de uma brecha para que o país seja alvo de um golpe.

Nos últimos dias, o tema reapareceu. O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, admitiu a possibilid­ade na semana passada, durante visita à Colômbia. Nos EUA, o New York Times revelou que Donald Trump chegou a tratar do assunto. Por isso, nos bastidores, os aliados do chavismo já avisaram que rejeitam a ideia de crise “humanitári­a”.

Uma das missões enviadas por Maduro esteve em Genebra, onde o chanceler Jorge Arreaza se reuniu com os diretores das principais agências da ONU. Publicamen­te, ele negou a existência de um problema humanitári­o ou de refugiados.

“Eles precisam de ajuda, mas não podem chamar a crise de humanitári­a”, afirmou uma fonte da ONU, que pediu para não ser identifica­da. Diplomatas consultado­s pelo Estado dizem que, após a Guerra Fria, a ideia de intervençõ­es humanitári­as ganhou força na ONU. Nos anos 90, o “direito à intervençã­o humanitári­a” foi levantado pelo Reino Unido no debate sobre o Iraque. A Otan usou o mesmo argumento em Kosovo.

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