O Estado de S. Paulo

Crise impulsiona e EAD já tem 1,7 milhão de estudantes

Em 2017, modalidade passou a atender 1,7 milhão de alunos (21,2% dos graduandos); em licenciatu­ra, responde por 46,8% dos estudantes

-

Quando terminou o ensino médio em 2015, Camilly Fiusa sonhava em cursar Veterinári­a. Sem dinheiro, ela adiou a entrada no curso, com a esperança de que a situação melhoraria em pouco tempo. No início de 2018, já com 19 anos e sem ver perspectiv­a de conseguir fazer a graduação que queria, decidiu entrar em um curso EAD (ensino a distância) para estudar Gestão Ambiental.

“Eu queria ser veterinári­a, mas é um curso muito caro e muito difícil de ingressar em uma faculdade pública. Achei melhor manter o pé no chão e fazer o que está dentro da minha realidade”, conta ela. No ano passado, Camilly chegou a ingressar em uma faculdade particular para cursar Ciências Biológicas, mas desistiu por causa da duração. Preferiu o curso tecnólogo EAD, que só tem dois anos e custo de R$ 170 por mês, pois conseguiu um desconto de 56% pela empresa Quero Bolsa.

Rodrigo Capelato, diretor do Sindicato das Mantenedor­as de Ensino Superior (Semesp), diz que as pesquisas com alunos do EAD mostram que jovens como Camilly são exceção na modalidade. “A média de idade é de 30 anos, enquanto no presencial fica em 22 anos. Em geral, quem estuda a distância é aquele adulto que já tem família e trabalha, e vê no EAD a possibilid­ade de ascender na carreira. Para o jovem, só é o caminho quando não vê opção – e isso é muito cruel”, diz.

Para Solon Caldas, diretor da Associação Brasileira de Mantenedor­as do Ensino Superior (Abmes), o cresciment­o das matrículas no ensino a distância apenas posterga o problema de expansão do ensino superior.

“É muito bom que pessoas mais velhas tenham a oportunida­de de conseguir estudar e ter um diploma. Mas não se consegue captar o jovem, que ainda tem o desejo de fazer uma graduação presencial. Vamos perpetuand­o o problema de termos gerações com baixa escolarida­de”, diz. Em 2007, a modalidade a distância representa­va 7% das matrículas de graduação. No ano passado, passou a atender 1,7 milhão de alunos – o que representa 21,2% dos graduandos do País. Nos cursos de licenciatu­ra, a modalidade já tem 46,8% do total de alunos.

Público. Em constante aumento na rede privada, a modalidade a distância também teve neste ano um salto nas instituiçõ­es públicas de ensino. O número de matrículas cresceu 35% e o de ingressant­es, 255%.

“Estamos recuperand­o o tamanho que essa modalidade tinha há alguns anos, mas foi reduzida por causa da queda orçamentár­ia. Neste último ano, conseguimo­s retomar a oferta por um incentivo da Capes (Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior). Por isso, esse aumento tão expressivo”, diz Reinaldo Centoducat­te, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituiçõ­es Federais de Ensino Superior (Andifes).

Ele também ressalta que a maior parte das vagas não é preenchida por jovens que acabaram de sair do ensino médio, mas por professore­s e gestores que atuam em escolas do ensino básico. “A maior parte da oferta é para a formação de professore­s, com as licenciatu­ras”, diz. Em 2016, o EAD nas públicas teve apenas 24,5 mil ingressant­es (menor número dos últimos dez anos). No ano passado, o número de ingressant­es subiu para 86,9 mil.

 ?? SERGIO CASTRO/ESTADÃO-2/7/2014 ?? Estúdio para EAD. Apenas nas públicas, o ingresso avançou 255%
SERGIO CASTRO/ESTADÃO-2/7/2014 Estúdio para EAD. Apenas nas públicas, o ingresso avançou 255%

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil