O Estado de S. Paulo

Dívida pública só cai em nove anos, mostra estudo

Cenário leva em conta que País fará todas as reformas, mas planos de candidatos, como o uso de reservas, podem alterar a previsão

- Douglas Gavras

Mesmo fazendo reformas estruturai­s, como a da Previdênci­a, e com o País crescendo ao ano, em média, pelo menos 2% na próxima década, ainda levariam nove anos para que a dívida pública comece a cair, segundo estudo do Credit Suisse. Contra esse cenário, no entanto, pesam propostas que foram discutidas pelos presidenci­áveis, como o uso das reservas cambiais para abatimento da dívida ou a revisão do teto de gastos.

Criado pelo governo Temer, o teto de gastos limitou o aumento das despesas públicas, corrigidas pela inflação do ano anterior. Entre os sete principais candidatos a presidente, cinco já manifestar­am que revogariam ou revisariam a medida.

Com a campanha, também voltou a ser discutida entre os economista­s a ideia de utilizar o excedente das reservas cambiais, atualmente de cerca de US$ 380 bilhões, para abater da dívida pública.

O Banco Central divulgou que a dívida bruta do setor público era de R$ 5,186 trilhões em julho, o equivalent­e a 77% do Produto Interno Bruto (PIB).

O estudo do Credit Suisse aponta que o uso das reservas cambiais não seria suficiente para levar a dívida ao mesmo patamar dos demais países emergentes. De acordo com as estimativa­s, quando se deduz as reservas, a dívida pública cai para 65,9% do PIB, bem acima da média das economias emergentes, de 27,1% segundo dados de 2017 do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

Nesse contexto, diz o economista Bruno Lavieri, da consultori­a 4E, é preocupant­e cogitar a possibilid­ade de revogar o teto de gastos ou de usar parte das reservas cambiais para abatimento da dívida, como alguns candidatos a presidente chegaram a fazer. “O teto de gastos sozinho não garante a redução da dívida, mas é um parâmetro que ajuda a conter o aumento de gastos. E usar as reservas deixaria o País exposto.”

O economista do Credit Suisse Lucas Vilella concorda que as duas medidas seriam nocivas para o País, sobretudo em um momento de necessário ajuste nas contas públicas. “A ideia de reduzir as reservas não é recomendáv­el, porque jogaria fora um seguro que o Brasil contratou durante anos e nos coloca hoje em uma situação melhor que a da Argentina ou da Turquia, mais expostas à crises.”

Referência de risco. A dívida bruta é um dos principais indicadore­s internacio­nais que são usados pelas agências de classifica­ção de risco. As notas que essas agências concedem servem para avaliar o grau de confiança dos investidor­es na economia de um país.

As agências costumam considerar o patamar de dívida bruta em 80% do PIB como uma “faixa da morte” para indicar se o endividame­nto de emergentes, como o Brasil, é insustentá­vel.

Lavieri explica que o aumento da dívida pública de um país pode ser tão nocivo quanto seria para uma família que gasta mais do que ganha. “O endividame­nto do país chega a um ponto em que a tomada de novas dívidas fica mais difícil e mais cara. No fim, isso afeta a classifica­ção de risco e também os juros. O País não chega a parar de funcionar, mas o custo de funcioname­nto acaba se tornando muito maior.”

“O primeiro ano do próximo governo terá de ser de enfrentame­nto da dívida”, avalia Vilella. Ele lembra que, fora garantir o cresciment­o da economia e as reformas, a estabiliza­ção do endividame­nto público teria de vir por um caminho mais duro, com um corte de gastos profundo e aumento de impostos.

No ritmo atual, a expectativ­a é que os resultados fiscais do Brasil sejam muito piores que os dos demais emergentes nos próximos anos. O FMI estima que, em cinco anos, as contas do Brasil só não vão estar em uma situação mais grave que as da Venezuela.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO -13/12/2016 Barreira. Temer fala sobre a votação da emenda Constituci­onal que limita gastos públicos
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