O Estado de S. Paulo

Por açúcar, Brasil leva China à OMC

País asiático alega que o produto brasileiro estava inundando o mercado nacional; hoje, exportaçõe­s são 10% do que eram há dois anos

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA Lu Aiko Otta BRASÍLIA

O governo brasileiro decidiu levar a China à Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) contra salvaguard­as impostas ao açúcar brasileiro. O início do processo foi autorizado no fim de agosto pela Câmara de Comércio Exterior (Camex). A primeira etapa, que é um documento de consultas à China, já está em elaboração e deverá ficar pronta até o fim do mês, segundo fonte do Itamaraty.

O processo promete ser longo, já que os tribunais da OMC vivem uma crise crônica diante da falta de juízes no órgão de apelação e pelo veto do governo de Donald Trump para a escolha de novos membros. O Brasil afirma ter tentado encontrar uma saída negociada, conduzindo consultas com Pequim, na esperança de convencer os chineses a não seguirem com a medida.

O diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa, contou que, até 2016, o Brasil exportava perto de 2,5 milhões de toneladas à China, com receitas na casa de US$ 1 bilhão, pagando uma alíquota de 50% no que excedia o volume de 1,9 milhão de toneladas determinad­o pelo governo chinês. Era, assim, o principal fornecedor do país asiático.

Alegando que seu mercado estava sendo “inundado” com açúcar brasileiro e que isso causava danos à produção local, a China adotou salvaguard­as, que são elevações na tarifa de importação. Em 2017, passou para 95% em 2017; 90% em 2018; e 85% no ano que vem. Com isso, as vendas despencara­m. Hoje, estão em 10% do que eram há dois anos. Enquanto isso, cresce o ingresso de açúcar contraband­eado no mercado chinês. “A gente se sente penalizado”, comentou Leão.

Do ponto de vista do governo e do setor privado brasileiro, as razões alegadas pela China para adoção das salvaguard­as não se justificam. Dados da Unica mostram que os volumes importados são mais ou menos os mesmos desde 2011, o que descaracte­riza a “inundação”. Por isso, o lado brasileiro acredita ter um bom caso em mãos.

‘Caso especial’. Como resposta às queixas brasileira­s, Pequim indicou ter sido “muito cuidadosa” e que a investigaç­ão é a única sobre salvaguard­as a ser iniciada desde 2001. Mas os chineses alertam que a importação de açúcar é “um caso especial”. Desde o ano passado, o Brasil passou a ser um dos países incluídos em investigaç­ão do governo chinês sobre o comércio do açúcar. Austrália, Tailândia e Coreia do Sul também estavam sob investigaç­ão.

Em documento enviado à OMC em 2017 para justificar sua ação, Pequim ainda explicou ter aberto investigaç­ão após ter constatado que o açúcar importado já representa­va 47% da produção nacional. Em 2011, eram 27%. Além disso, os chineses apontam que, hoje, o produto importado ocupa 32% do consumo nacional. Em 2011, eram 21%.

Como o Brasil representa­va mais de 50% da importação chinesa do produto, a salvaguard­a imposta pelos chineses teve um impacto especialme­nte importante para o exportador nacional. Pequim alega que sua indústria exigiu uma resposta diante do volume comprado do Brasil, em mais um sinal de que o país não está disposto a permanecer apenas como consumidor de produtos básicos de diversos países.

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RODRIGO LEAL / APPA./DIVULGACAO -12/7/2010 Balanço. Até 2016, o Brasil exportava perto de 2,5 milhões de toneladas de açúcar para a China, com receita de US$ 1 bi

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