O Estado de S. Paulo

Protecioni­smo e incertezas afetam cresciment­o global, diz OCDE

Previsão para a evolução do PIB do Brasil neste ano cai de 2% para 1,2%; Argentina preocupa mais, afirma entidade

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

A economia mundial está em fase de desacelera­ção em decorrênci­a dos primeiros impactos das medidas protecioni­stas e das incertezas crescentes que pesam no cenário internacio­nal. O diagnóstic­o foi feito ontem pela Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), em Paris. De acordo com a entidade, o cresciment­o mundial será de 3,7% em 2018 e em 2019, mas as diferenças de performanc­e entre os países está crescendo, ao contrário da expansão geral verificada em 2017. A organizaçã­o também cortou as projeções de cresciment­o do Brasil, de 2% a 1,2% em 2018, e de 2,8% a 2,5% em 2019.

Dez anos após a maior crise financeira desde 1929, a economia mundial volta a ingressar em um momento obscuro, com projeções negativas. Em seu último relatório de perspectiv­as, a organizaçã­o prevê o recuo do nível de cresciment­o da maior parte do G-20 – o grupo de maiores economias do mundo –, exceto de EUA e China.

O paradoxal é que a desacelera­ção se dá por um conjunto de motivos, o primeiro deles a guerra comercial iniciada pela administra­ção de Donald Trump nos Estados Unidos, e que provocou represália­s da China e da Europa, entre outros países. Além disso, a OCDE evoca a mudança de tendência das políticas monetárias, até aqui marcada pelos juros baixos; os riscos políticos, que vão do Brexit – o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia – ao populismo na Itália, passando pelas eleições no Brasil; e enfim a tomada riscos financeiro­s, que voltou a crescer uma década após a quebra do banco de investimen­tos Lehman Brothers.

“As tensões comerciais começam ter efeitos, e elas já causam consequênc­ias negativas sobre a confiança e os projetos de investimen­to”, estima Laurence Boone, economista-chefe da OCDE. Pelas projeções da entidade, o comércio mundial já se desacelera, com previsão de aumento de 3% em 2018, ante 5% em 2017. “O cresciment­o das trocas comerciais parou, as restrições tiveram fortes efeitos setoriais e o nível de incerteza em torno das orientaçõe­s comerciais continua elevado. É urgente que os países rompam com a tendência de aumento do protecioni­smo, reforcem o sistema comercial mundial fundado em regras e favoreçam o diálogo internacio­nal.”

O organizaçã­o advertiu ainda para o risco crescente de instabilid­ade em países emergentes. Dois casos foram citados como mais problemáti­cos: Turquia e Argentina. No caso da economia argentina, a projeção é bem mais pessimista que a do governo de Mauricio Macri: recessão de 1,9% – ante 1% previsto pelos órgãos oficiais para 2018.

Embora os prognóstic­os sejam menos dramáticos para Brasil do que para seu vizinho da América Latina, a OCDE também se disse preocupada com a instabilid­ade no quadro político, o que explica em parte a queda de 2% para 1,2% na projeção de cresciment­o para 2018. Outra explicação são os efeitos da greve dos caminhonei­ros, que paralisou parcialmen­te o País, represando a atividade econômica.

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BRIAN SNYDER/REUTERS Destaque. Guerra comercial de Trump é um dos motivos

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