O Estado de S. Paulo

A eleição definida pelo WhatsApp

- PEDRO DORIA E-MAIL:COLUNA@PEDRODORIA.COM.BR TWITTER: @PEDRODORIA PEDRO DORIA ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS

Quando a campanha eleitoral teve início oficialmen­te, parecia claro que três braços influencia­riam no sucesso ou fracasso dos candidatos. O primeiro, como sempre, máquina política. A capacidade que partidos têm ou não de ter gente trabalhand­o pessoalmen­te nos mais distantes rincões do país. E, depois, o grande debate. Televisão e internet. Ambos os canais de comunicaçã­o têm peso. Mas, ainda assim, o debate corria solto. Esta, afinal, seria a última eleição da TV? Ou a primeira eleição da internet.

Deu para ver rápido: é a primeira eleição digital. Nunca mais candidatos com o peso e a relevância de Marina Silva (Rede) ou Geraldo Alckmin (PSDB) entrarão numa corrida eleitoral com estrutura tão amadora de marketing online.

Dentre os candidatos novatos, sem estrutura, nenhum cresceu mais do que João Amoêdo (Novo). O que ele tem e os outros não? Uma sólida rede de participan­tes voluntário­s que fazem campanhas via redes sociais.

Só um candidato se mantém de pé e estável perante o natural rumo à polarizaçã­o do eleitorado que se divide entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). É Ciro Gomes (PDT). Ciro, enquanto no PT ainda imperava a confusão, foi também aquele que conseguiu disparar rápido na largada. O que ele tem? Uma sólida campanha voltada para toda sorte de nichos em comunidade­s digitais. Tem grupos dedicados para cada estado, o irônico Ciro Gomes Zueiro, assim como o Ciro Sincero, além da marca principal Time Ciro Gomes. A campanha consegue, assim, falar com tons diferentes dependendo do público, e produzir memes e vídeos que possam ser distribuíd­os pelos eleitores. E são.

A rede é usada para unificar a mensagem. Com quase nenhum tempo na TV e uma máquina precária, é a internet que mantém Ciro viável.

Não é que os outros tenham jogado mal. Na pré-campanha, Ciro levou uma rasteira e Alckmin marcou o gol mais importante. Ciro não conseguiu botar de pé uma aliança de partidos que lhe garantisse TV. Alckmin conseguiu, e vastamente. O problema está na aposta feita pelo tucano: de que a TV seria suficiente para alavancá-lo. Não aconteceu. É justo lembrar que, neste meio tempo, sua estratégia de atacar Bolsonaro foi interrompi­da pelo atentado contra a vida do ex-capitão. Mas este é um jogo de comparação. E inevitável observar que Haddad e Bolsonaro têm, em comum, a melhor estrutura de internet de todos os candidatos. Porque não se trata, apenas, de bom marketing na utilização das redes – caso de Ciro. Esta é uma arte que, antes de tudo, exige a construção de uma extensa rede de simpatizan­tes. É o que os candidatos de PT e PSL têm e ninguém mais conseguiu criar.

Poderia se argumentar que o PT tem votos de graça, por conta da popularida­de de Lula. Cada um vai explicar esta popularida­de de um jeito. Carisma. Demagogia populista. Ou reais benefícios percebidos em seu governo por uma parcela da população. A explicação é menos importante. A popularida­de é real. Mas ele tinha um problema imenso para resolver em sua estratégia contorcion­ista. Teria de explicar em muito pouco tempo que Haddad é seu candidato. E teria de fazer isso sem poder circular por palanques ou gravar filmes. O WhatsApp deu conta de espalhar a mensagem rápido pelos mais remotos cantos do país.

O mesmo WhatsApp que mantém o eleitorado de Bolsonaro ativadíssi­mo, ainda que o militar esteja preso a uma cama de hospital, incapaz de falar. É inevitável enxergá-lo: o Brasil está vivendo sua primeira eleição digital.

É inevitável notar que Haddad e Bolsonaro têm, em comum, a melhor estrutura de internet

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