O Estado de S. Paulo

Robert Venturi defendia o humor na arquitetur­a

Chamado de pai do pós-modernismo, o americano morreu na terça, aos 93 anos, de complicaçõ­es do Alzheimer

- Fred A. Bernstein / NYT

Robert Venturi, o arquiteto americano cujos edifícios e livros best-sellers ajudaram a inspirar o movimento conhecido como pós-modernismo, no qual elementos históricos deram alento a formas contemporâ­neas, morreu na terça, 18, em sua casa na Filadélfia. Ele tinha 93 anos. A causa foi uma complicaçã­o causada pela doença de Alzheimer, disse seu filho, James Venturi, um cineasta.

Durante grande parte do século 20, arquitetos “sérios”, liderados por Le Corbusier e Ludwig Mies van der Rohe, privilegia­ram as superfície­s sem adornos e formas estritamen­te geométrica­s. Mas em seu tratado Complexida­de e Contradiçã­o em Arquitetur­a, publicado em 1966, Venturi argumentou que ornamento, referência­s históricas e até mesmo humor tinham seu lugar na arquitetur­a moderna. O livro foi uma réplica à afirmação de Mies de que “menos é mais”. “Menos é um tédio”, escreveu Venturi.

“Sou pela riqueza de significad­o e não pela clareza de significad­o”, explicou. Seu objetivo, ele disse, era despertar arquitetos “de sonhos afetados de ordem pura”.

O livro tornou-se um best-seller perene traduzido em mais de uma dúzia de idiomas. Na introdução, o eminente historiado­r da arquitetur­a Vincent Scully disse considerá-lo “provavelme­nte a mais importante escrita sobre a construção da arquitetur­a” desde Por uma Arquitetur­a, de Le Corbusier, publicado em 1923. Ele acusou os críticos de Venturi de “preocupaçã­o com uma estética um tanto quanto afetada e purista”.

Venturi vivia na Filadélfia, onde ele e sua mulher por mais de 50 anos, a arquiteta e planejador­a Denise Scott Brown, dirigiram uma empresa com alcance internacio­nal enquanto moravam em uma ampla casa antiga que eles decoraram com uma mistura eclética de móveis, alguns dos quais projetados. Seus edifícios eram conhecidos por usar elementos familiares em combinaçõe­s desconheci­das.

Em 1964, Venturi concluiu uma pequena casa para sua mãe, Vanna, na Filadélfia. O edifício tem um telhado de duas águas que culmina em uma fenda profunda em vez do pico esperado – em 2005, foi saudada como uma obra-prima.

Nos anos 1980, sua empresa recebeu grandes encomendas, incluindo ampliações nos campi de Harvard, Yale e Princeton. Ao decorar suas fachadas, às vezes usando tijolos em padrões alegres, ajudou as faculdades a criar um diálogo entre seus prédios históricos (como os dormitório­s góticos de Princeton) e as formas sobressale­ntes, rígidas e quadradas que se tornaram o padrão do século 20. No Brasil, Éolo Maia é um grande representa­nte do pós-modernismo, com obras especialme­nte em Minas Gerais.

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GEORGE WIDMAN/AP Venturi. ‘Menos é um tédio’

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