O Estado de S. Paulo

Bruxaria no estilo Amblin para a geração pós-‘Harry Potter’

- Luiz Carlos Merten

Talvez seja birra de adulto, mas é um problema que também ocorre com o novo Predador, que é tudo, menos um filme para crianças. Embora escrito por um roteirista de sucesso – o também diretor Shane Black –,

Predador chega a ser constrange­dor, em certos momentos, por conta de piadinhas que conseguem ser tão incorretas quanto sem graça. É um pouco o que também ocorre com a adaptação de O Mistério do Relógio na Parede, por Eli Roth.

Cria de Quentin Tarantino, que produziu O

Albergue 2, Eli fazia o sargento Donny ‘O Urso Judeu’ Donowitz, que eliminava nazistas com seu taco de beisebol em Bastardos Inglórios. A pedido de Tarantino, Eli dirigiu, em preto e branco, o filme dentro do filme sobre como o soldado Frederick Zoller/Daniel Bruhl teria eliminado todos aqueles aliados com seu rifle solitário. Eli dirige agora a adaptação do livro de John Bellairs. Autor infantil conceituad­o nos EUA, ele morreu em 1991 e só agora, 27 anos depois, chega ao cinema a aventura que inicia a trilogia do jovem Lewis Barnavelt. No Brasil, o livro foi publicado pela Galera Record. Dependendo da resposta do público, podem haver sequências – no plural.

Na trama, o menino órfão vai morar com o tio numa mansão meio ‘creepy’, assustador­a. O tio tem essa amiga. Obviamente, guardam um segredo, que não querem revelar para o menino. Diz respeito ao tal relógio. No passado, titio foi parceiro de um famoso mágico, que voltou transtorna­do da guerra. O mágico desaparece­u. Teria vendido a alma ao demônio, e há suspeita de que deixou no ar um plano para destruir a vida na Terra. Roth não curte apenas a violência. É também expert em terror. Sua adaptação de Bellairs carrega no terror. Infantil, juvenil? Como fantasia para esses segmentos de público, O Mistério do Relógio corre o risco de deixar pequenos (e pequenas) insones. É o que ocorre com o protagonis­ta da história quando se aloja com titio.

Lewis tem visões da mãe que morreu num acidente de carro, conversa com ela. Esquisito, não? Mamãe quer saber coisas – olha o spoiler! Fique de olho nela. Black e Cate são feiticeiro­s, tentando quebrar o feitiço do mago maior – interpreta­do pelo ‘lynchiano’ Kyle MacLachlan. (Só para sua informação, ao se mudar para NY – nasceu em Boston –, Eli Roth foi assistente de David Lynch. Chegaram a desenvolve­r projetos para teatro, que não vingaram. Mas ficou a amizade com McLachlan, ator-fetiche de Lynch.) Efeitos gráficos, embates físicos, tudo é violento, para adultos, ou quase. Só o diálogo é menos que infantil – tatibitate.

Pode ser birra, vale destacar de novo, mas Cate é uma atriz grande demais para ficar trocando farpas com Jack Black do tipo ‘Seu cabeça de pomba’. O leão de vegetação no jardim sofre de flatulênci­a, quando não despeja coisa pior em Lewis. O próprio conceito de bruxaria é formatado para a geração pós-Harry Potter, mas a produção é da Amblin e Roth paga tributo ao cinema de fantasia dos anos 1980, com cenas que parecem ‘roubadas’ de outra série, De Volta para o Futuro. O resultado é só um pouco menos ruim que o remake, por Roth, de Desejo de Matar, com Bruce Willis no papel de Charles Bronson.

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