O Estado de S. Paulo

Sondas seriam para bancar campanha

Palocci afirma que Lula pediu a Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás, a construção de sondas para gerar recursos para candidatur­as em 2010

- Ricardo Brandt Julia Affonso Fausto Macedo Luiz Vassallo

Palocci disse que, em 2010, Lula solicitou ao presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, a construção de sondas para garantir recursos para campanha de Dilma.

As campanhas presidenci­ais de Dilma Rousseff em 2010 e 2014 custaram R$ 600 milhões e R$ 800 milhões, segundo delação premiada do exministro Antonio Palocci. O valor de R$ 1,4 bilhão supera em 2,7 vezes o declarado ao Tribunal Superior Eleitoral. O gasto oficial informado para a disputa de 2010 foi de R$ 153 milhões e para a 2014, R$ 350 milhões.

Palocci afirmou que, em uma reunião em janeiro de 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitou ao então presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, a construção de sondas para garantir recursos para a campanha de Dilma, que era a ministra da Casa Civil.

Na delação, feita em 13 de abril, cujos trechos foram divulgados ontem, Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma, atribui ao ex-presidente envolvimen­to em um esquema de loteamento de cargos estratégic­os na Petrobrás. Na época da reunião, Palocci era deputado federal.

“O então presidente da República foi expresso ao solicitar do então presidente da Petrobrás que encomendas­se a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do país e do Partido dos Trabalhado­res com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava”, registra o Termo 01 da delação premiada de Palocci.

Preso e condenado a 12 anos e um mês de pena na Operação Lava Jato, Lula teria orientado Palocci a ser o responsáve­l pelo gerenciame­nto dos recursos. “Na mesma reunião, afirmou que caberia ao colaborado­r (Palocci) gerenciar os recursos ilícitos que seriam gerados e o seu devido emprego na campanha de Dilma Rousseff para a Presidênci­a da República.”

Palocci dá peso especial ao encontro com Lula, Dilma e Gabrielli. “Foi a primeira reunião realizada por Luiz Inácio Lula da Silva em que explicitam­ente tratou da arrecadaçã­o de valores a partir de grandes contratos da Petrobrás”, registra o Termo 01. “Havia um interesse social e um interesse corrupto com a nacionaliz­ação e desenvolvi­mento do projeto do présal”, sustentou Palocci.

O termo – são dezenas ainda sob sigilo – foi anexado ao processo penal contra Lula aberto pelo juiz federal Sérgio Moro, de propinas da Odebrecht na compra de um terreno para o Instituto Lula, em São Paulo, e do apartament­o usado por ele em São Bernardo do Campo.

Dilma. A delação de Palocci descreve um cenário no qual governos do PT uniram um cartel de empreiteir­as, que fatiou as obras de refinarias. Em outros capítulos ainda não públicos, a delação premiada homologada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), a segunda instância da Lava Jato de Curitiba, aponta o financiame­nto e criação da empresa Sete Brasil, em 2010, a intermediá­ria privada da Petrobrás para a contrataçã­o de estaleiros para construção e operação dos navios-sonda para exploração do petróleo da camada de pré-sal.

O negócio de US$ 22 bilhões teria envolvido propina de 1% para o PT e demais envolvidos. Seguindo a política de nacionaliz­ação da indústria nas construçõe­s e reformas de refinarias – lançada no primeiro governo Lula (2003-2006), a produção naval voltada ao petróleo com conteúdo nacional reservou 70% dos negócios para empreiteir­as, que se associaram às multinacio­nais como Mitsui, Kepell Fels, que detinham a expertise industrial.

Segundo o delator, Lula teria exigido que os recursos para o PT fossem pagos pelas empresas nacionais. Os estaleiros contratos pela Sete Brasil foram o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), o Brasfels, o Estaleiro Rio Grande, o Enseada Paraguaçu e o Jurong Aracruz.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–3/6/2011 2011. A então presidente Dilma Rousseff participa de cerimônia da Petrobrás com Gabrielli

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