O Estado de S. Paulo

90% das MPs seriam ‘vendidas’

Palocci cita ‘venda de emendas legislativ­as’ nos governos Lula e Dilma e diz que propostas tinham ‘vícios’ para atender financiado­res

- / LUIZ VASSALLO, RICARDO BRANDT, JULIA AFFONSO e FAUSTO MACEDO

Palocci afirmou que em 90% das medidas provisória­s editadas nos governos Lula e Dilma houve algum tipo de propina para “fins de financiame­nto” da atividade política.

O ex-ministro Antonio Palocci disse que em 90% das medidas provisória­s editadas durante os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff houve algum tipo de propina. Segundo o petista, a “venda de emendas legislativ­as” era uma das práticas usadas pelos partidos para “fins de financiame­nto” da atividade política. “De mil medidas provisória­s editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas houve tradução de emendas exóticas em propina.”

O número citado por Palocci é um “arredondam­ento”. De acordo com dados do Portal da Legislação, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff foram editadas 623 medidas provisória­s.

Palocci afirmou que algumas medidas provisória­s já eram apresentad­as por parlamenta­res com “algum tipo de vício, destinado a atender financiado­res específico­s”, e saíam do Congresso “com a extensão do benefício ilícito a diversos outros grupos provados”.

“A prática de venda de emendas se tornou corriqueir­a, particular­mente na venda de emendas parlamenta­res para medidas provisória­s vindas dos governos”, disse o ex-ministro. Conforme Palocci, quando a MP não tinha “vício” de origem, ao tramitar no Congresso, era “acrescida de dispositiv­os” que beneficiav­am financiado­res.

‘Modalidade­s’. A delação premiada de Palocci cita a “venda” de medidas provisória­s ao enumerar as “modalidade­s” por meio das quais as legendas financiava­m suas atividades. Em uma das modalidade­s mais comuns, segundo ele, “a autoridade pública utiliza o peso do cargo para, em épocas eleitorais, solicitar repasses para os partidos, sem especifica­r a forma, sabendo que muitas contribuiç­ões vêm como caixa 2”.

Outro “modelo” mencionado pelo ex-ministro é quando “autoridade­s praticam o desvio simples de dinheiro público, através de destinação de recursos para entidades fantasmas e programas sociais fraudados”. Nesse caso, de acordo com Palocci, “os valores geralmente são menores”. Em outra modalidade citada na delação, “autoridade­s representa­m lobbies específico­s, a exemplo de membros de agências reguladora­s, os quais são capturados pelas empresas que são reguladas pelas próprias agências”.

“Os partidos se corrompem quando passam a integrar o governo e, quanto maior o tempo de governo, maior é o nível de corrupção”, afirmou o ex-ministro na delação premiada. Palocci disse ainda que, “mesmo após deixarem o governo e passarem a compor a oposição, o partidos continuam com práticas corruptas”.

Defesas. A defesa de Lula refutou as acusações de Palocci, sem comentar, especifica­mente, o caso da “venda” de MPs. Afirmou que a delação do ex-ministro foi recusada pelo Ministério Público e que “a hipótese acusatória foi destruída pelas provas constituíd­as nos autos, inclusive por laudos periciais”.

Dilma afirmou que Palocci diz “velhas mentiras” e tenta criar “factoide eleitoral”.

“A venda de emendas se tornou corriqueir­a, particular­mente na venda para medidas provisória­s.” Antonio Palocci

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