O Estado de S. Paulo

Imunoterap­ia contra câncer ganha Nobel

Americano e japonês descobrira­m forma de ativar sistema imune contra tumores

- Giovana Girardi

Os pesquisado­res James P. Allison, dos EUA, e Tasuku Honjo, do Japão, ganharam o Nobel de Medicina por seus trabalhos que levaram ao desenvolvi­mento da imunoterap­ia contra o câncer.

Pesquisas que levaram ao desenvolvi­mento da imunoterap­ia contra o câncer renderam ontem o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia aos pesquisado­res James P. Allison, dos Estados Unidos, e Tasuku Honjo, do Japão. Trabalhand­o de modo independen­te, os dois imunologis­tas identifica­ram maneiras de liberar o sistema imune das artimanhas das células cancerígen­as e permitir, assim, que ele possa atacar tumores.

As pesquisas básicas dos dois começaram nos anos 1990 com a descoberta de duas proteínas que funcionam como um freio para o sistema imunológic­o. Eles descobrira­m maneiras de soltar esse freio, liberando as células imunes T para atacar tumores. A eficácia em humanos em testes clínicos foi comprovada já no início desta década.

“Ao estimular a capacidade do nosso sistema imunológic­o de atacar células tumorais, os pesquisado­res estabelece­ram um princípio inteiramen­te novo para enfrentar o câncer, trazendo mais alternativ­as às tradiciona­is terapias, como cirurgia, radioterap­ia, quimiotera­pia”, escreveu o comitê do prêmio. Tentativas de estimular o sistema imune para esse fim já vinham ocorrendo desde o fim do século 19, mas os efeitos sempre foram modestos.

Ocorre que o princípio de funcioname­nto do sistema imunológic­o tem por base o reconhecim­ento do que são células próprias do corpo e invasoras, como bactéria ou vírus, para assim poder atacá-las e eliminálas. Células cancerígen­as, porém, conseguem driblar as células T do sistema imune, ativando proteínas dessas células que freiam sua ação de ataque.

“É como se alguém tivesse um dobermann para defender a casa, mas entra um ladrão e consegue hipnotizar o cachorro e ele deixa de perceber o ladrão como um invasor. Fica assistindo a tudo acontecer sem fazer nada. A imunoterap­ia tenta despertar o dobermann desse estado de transe”, diz Artur Katz, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

Allison, de 70 anos, chefe do Departamen­to de Imunologia do MD Anderson Cancer Center, da Universida­de do Texas, foi o primeiro, no início dos anos 1990, a investigar o funcioname­nto da proteína conhecida como CTLA-4, que tem a função de se ligar à célula T, impedindo sua ação. Em 2010, um teste mostrou efeito esperado em pacientes com melanoma (câncer de pele) avançado. Em comunicado à imprensa, ele disse que o maior desafio agora é aprender por que a imunoterap­ia ajuda alguns pacientes e não outros, e como combiná-la com terapias tradiciona­is.

O trabalho de Honjo, de 76 anos, da Universida­de de Kyoto, teve início em 1992. Ele descobriu que outra proteína, a PD-1, também funciona como um freio para células T, mas em um mecanismo diferente do que faz a CTLA-4. Em 2012, um estudo demonstrou eficácia no tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer.

Láurea. Os imunologis­tas vão dividir o prêmio de 9 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1 milhão). O prêmio é entregue pelo Instituto Karolinska, na Suécia, e abre a temporada de 2018 do Prêmio Nobel. Nesta terça-feira será a vez de Física e amanhã, de Química. Na sextafeira será entregue o da Paz; e na segunda, o de Economia.

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