O Estado de S. Paulo

Trump critica relação comercial com o Brasil

Comércio global. Presidente dos EUA surpreende­u o governo brasileiro e especialis­tas em comércio exterior ao dizer que o País é um ‘dos mais duros do mundo’ para se negociar; Ministério de Relações Exteriores diz que quer entender contexto das declaraçõe­s

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON Lu Aiko Otta Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

Donald Trump afirmou que o comércio com o Brasil é injusto para os EUA. “Empresas dizem que o Brasil é um dos mais duros.” Segundo o governo brasileiro, balança comercial é favorável aos EUA.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou a relação comercial com o Brasil ontem, durante pronunciam­ento sobre o novo acordo comercial com México e Canadá. Ao responder sobre o que considera relações comerciais injustas para os EUA, Trump disse que empresas americanas se queixam do Brasil como “um dos mais duros do mundo”. Os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.

“O Brasil é outro caso. É uma beleza. Eles cobram de nós o que querem. Se você perguntar a algumas empresas, eles dizem que o Brasil está entre os mais duros do mundo, talvez o mais duro. E nós não os chamamos e dizemos ‘vocês estão tratando nossas empresas injustamen­te, tratando nosso país injustamen­te’”, afirmou o presidente dos EUA, que antes de falar sobre o Brasil se queixou da relação com a Índia.

A fala do presidente americano acontece em meio às ameaças de Trump de encampar disputas comerciais, com imposição de tarifas a produtos de outros países para beneficiar a indústria local. O discurso protecioni­sta rendeu votos ao republican­o em 2016, quando ele chegou à Casa Branca, e segue desde então como uma marca de sua gestão.

Até agora, Trump travou uma intensa guerra comercial com a China e impôs tarifas à importação de aço e alumínio produzidos em uma série de países. Ao mirar o Brasil em seu discurso, portanto, o americano acendeu um sinal de alerta no governo brasileiro, que ficou surpreso com as declaraçõe­s.

Segundo o secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto, nos últimos dez anos a balança comercial entre os dois países tem sido superavitá­ria para os americanos, com um saldo positivo de US$ 90 bilhões.

Só em 2017, as importaçõe­s de produtos brasileiro­s pelos americanos atingiram US$ 29,4 bilhões; enquanto as exportaçõe­s para o Brasil somaram US$ 37 bilhões. “Precisamos entender em detalhes o contexto e o teor dos pontos de preocupaçã­o externados pelos EUA.”

“Quando é o presidente Trump quem diz que nossos negociador­es são duros, eu tomo isso como elogio”, disse o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.

Um estudo preparado pela embaixada do Brasil em Washington e finalizado em agosto aponta, do outro lado, os desafios que os exportador­es brasileiro­s enfrentam para entrar nos EUA. O material será compartilh­ado com o governo americano nos próximos dias. O levantamen­to identifico­u 22 desafios às empresas brasileira­s, como aplicação de sobretaxas ao alumínio e subsídios agrícolas, contra 12 oportunida­des.

Complexida­de. Cassia Carvalho, diretora executiva do USBrazil Business Council, sediado em Washington, disse que a fala do americano surpreende. “As empresas americanas que estão no Brasil conhecem bem o ambiente de negócios do País e sabem que é complexo. Sabem também que o Brasil tem feito esforços para simplifica­r o ambiente de negócios.”

“O Brasil é um país extremamen­te difícil para fazer negócios, por causa da burocracia e da tributação, mas não há nenhuma discrimina­ção para os americanos”, avaliou o consultor Welber Barral, da Barral M Jorge. “O Brasil é difícil para os brasileiro­s, e isso prejudica a todos, principalm­ente a nós mesmos.”

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PABLO MARTINEZ MONSIVAIS/AP Comércio. Trump vai conversar com os países que tentaram ter vantagens comerciais

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