O Estado de S. Paulo

Fake news em alta.

- / GABRIEL MANZANO

Brasileiro­s são o povo que mais acredita em fake news no mundo (62%), indica pesquisa do Ipsos, diz Danilo Cersosimo.

A cinco dias das eleições, com um debate radicaliza­do e as fake news se espalhando a torto e a direito, o diretor do Instituto Ipsos Danilo Cersosimo chama a atenção, em conversa com a coluna, para três questões centrais do cenário eleitoral.

Primeira: os brasileiro­s acabam de “emplacar” como o povo que mais acredita em fake news no mundo – são 62%, seguidos de Arábia Saudita e Coreia do Sul (58%) em pesquisa Global Advisor, da Ipsos, que ouviu 19.243 pessoas em 27 países.

Segunda: o clima eleitoral jogou o País num intenso processo de politizaçã­o das falsas notícias. As fake news estão hoje, no Brasil, institucio­nalizadas.

Terceira: há um movimento duplo. As fake news são lidas e passadas à frente porque o cidadão não percebeu que era mentira... ou justamente porque percebeu e quer espalhar a má notícia para prejudicar algum concorrent­e. “Instituiçõ­es fracas criam o clima para fake news em alta”, conclui Cersosimo.

A pesquisa mundial da Ipsos, feita entre junho e agosto, revela que 58% dos consultado­s se acham capazes de identifica­r as fake news. Apenas 28% admitem que não o são. Os italianos são o povo mais desconfiad­o: só 29% admitem que já caíram nas falsas notícias.

A que atribui o fato de o Brasil ser o País que mais acredita em fake news, de 27 pesquisado­s? De fato, aqui 62% admitem que já acreditara­m numa fake news em algum momento. O curioso é que chegam a 68% os que garantem saber a diferença entre falso e verdadeiro. O contexto brasileiro é muito favorável à disseminaç­ão de fake news devido à queda de confiança nas instituiçõ­es. E chama a atenção, neste momento, que os próprios candidatos se habituaram a disseminar acusações uns contra os outros, sem se dar ao trabalho de checar se a denúncia é verdadeira. Mas há outro fator. As fake news são lidas e passadas adiante por quem não as percebeu como mentira e também pelos que perceberam. O que estes querem é queimar os concorrent­es.

E na política há o componente emocional que leva o cidadão a fincar pé numa posição, mesmo que lhe provem que sua avaliação não é correta. Sim, o sujeito muitas vezes “escolhe” um lado e não o abandona mais. É sua tribo. Há um sentido de identidade com o grupo, de autoestima. Não é qualquer um que admite um erro e assume o custo de voltar atrás.

É irônico o cidadão achar que ele sabe identifica­r uma notícia falsa e dizer que os outros não sabem, como revelou a pesquisa da Ipsos.

De fato. A propósito, há uma outra pesquisa, que vamos atualizar até dezembro, sobre Perigos da Percepção. Os números apontam que nossa população interpreta de modo equivocado alguns fatos da vida social. Por exemplo, os que se acham éticos e criticam a corrupção nos outros. Isso vale também quando se fala de racismo, de refugiados, de criminalid­ade.

O que se poderia fazer para reduzir esse quadro?

Há nisso muito de manipulaçã­o de massas, e esta sempre existiu, pelo mundo afora. As fake news são apenas um dos modos atuais de fazer essa manipulaçã­o. Um caminho é o que a mídia já vem fazendo, que é criar ferramenta­s de checagem e divulgar suas conclusões com destaque. A outra saída, de muito longo prazo, chama-se educação. É preciso criar senso crítico entre os cidadãos, para que se defendam até pessoalmen­te.

Mas hoje as redes sociais atuam com enorme rapidez. Sim, não é simples mudar isso. Seria ingênuo achar que vamos resolver um problema desse tamanho de uma hora para outra.

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FOTO IPSOS

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