O Estado de S. Paulo

Pandemônio institucio­nal.

- E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

O primeiro turno de 2018 caminha para o fim com interferên­cia do MP, da Justiça e, talvez, da própria PF.

Exatamente na última semana das eleições, a Justiça toma decisões de deixar juristas, analistas e políticos de cabelo em pé. Em Brasília, o ministro Ricardo Lewandowsk­i insiste em liberar o ex-presidente Lula para dar entrevista­s, o que significa fazer campanha para o candidato do PT. Em Curitiba, o juiz Sérgio Moro retira o sigilo da delação premiada de Antonio Palocci, que atinge em cheio justamente Lula.

A “base teórica” dessa guerra de nervos vale para os dois lados: Lula nem é candidato, oras! Logo, pode dar entrevista da sua cela. Logo, não precisa de sigilo para a delação de Palocci, que foi o homem da economia e um dos personagen­s centrais de seu primeiro mandato na Presidênci­a.

Lewandowsk­i, amigo pessoal do casal Lula e Marisa Letícia e nomeado pelo então presidente para o Supremo, causou uma enorme surpresa na sextafeira ao autorizar as entrevista­s, mesmo sabendo (ou exatamente porque sabe) o peso de Lula na campanha de Fernando Haddad. Os demais ministros levaram um susto, consideran­do que uma decisão com tamanho impacto político deveria ter sido submetida ao plenário, não tomada individual­mente, e por alguém tão ligado a Lula e ao PT.

Ao receber um questionam­ento sobre a decisão, o ministro Luiz Fux, numa outra canetada, desfez o que Lewandowsk­i fizera. Outra surpresa. Afinal, não é trivial um colega desautoriz­ar o outro, e tão rapidament­e. O que Lewandowsk­i fez? Deixou passar o fim de semana e ontem voltou à carga. Ficamos assim: Lewandowsk­i autoriza, Fux desautoriz­a, Lewandowsk­i autoriza novamente. E agora?

O Supremo repete assim a “Operação Tabajara” do TRF-4 de Porto Alegre, quando o desembarga­dor Rogério Favreto – outro ligadíssim­o ao PT – mandou soltar Lula num mero plantão. O juiz Moro negou, o relator negou, o presidente do tribunal negou. Um vexame histórico, com críticas das então presidente­s do Supremo e do STJ e da procurador­a-geral da República.

A PF ficou feito barata tonta: obedecer a Favreto, a Moro, ao relator ou ao presidente do TRF-4? E agora, obedece ao ministro X ou Y do Supremo? Durma-se com um barulho desses, enquanto o presidente Dias Toffoli articulava uma saída e bateu o martelo: não tem entrevista.

Foi nesse clima que Moro liberou a divulgação das delações de Palocci, relatando como Lula participou do fatiamento da Petrobrás entre os partidos e fazia um teatro com interlocut­ores para fingir que não sabia de nada, enquanto as campanhas de Dilma Rousseff atingiam até R$ 800 milhões, grande parte não declarada. Foi ou não foi uma retaliação de Moro à audácia de Lewandowsk­i? Audácia se paga com audácia?

Some-se tudo isso às operações contra os governador­es tucanos Beto Richa (PR), Marconi Perillo (GO) e Reinaldo Azambuja (MS), num momento crítico das campanhas e com curto espaço de tempo entre elas. Richa foi preso, inclusive, e seus índices nas pesquisas para o Senado despencara­m. Foi por acaso? Atingindo governador­es? De um único partido? A dias das eleições?

Não bastasse a polarizaçã­o entre PT e extrema direita, o primeiro turno de 2018 caminha para o fim com interferên­cia do MP, da Justiça e, talvez, da própria PF. É como se dissessem: não pegaram o PT? Então tem de pegar o PSDB bem na campanha.

Quem lucra com esse pandemônio institucio­nal é... Jair Bolsonaro. Após revolucion­ar as redes sociais, atrair eleitores de alta escolarida­de com um discurso vazio e juntar uma equipe um tanto atrapalhad­a, ele agora consegue agitar as ruas com manifestaç­ão contra e a favor. Essa é novidade. Aliás, como tudo nessa eleição, centrada num preso doido para falar e num esfaqueado que só lucra ficando calado.

Ministros do Supremo desautoriz­am uns aos outros e juiz Moro entra na confusão

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