O Estado de S. Paulo

Réu presta serviço para o PT

Acusado na Lava Jato, Favieri é sócio de empresa que presta serviços à candidatur­a

- Luiz Vassallo

Giovane Favieri, réu na Lava Jato, e Valdemir Garreta, ligado a investigaç­ão da Odebrecht, receberam R$ 2,1 milhões da campanha Haddad. Eles são sócios de empresa que presta serviço à candidatur­a. O petista não se manifestou.

Giovane Favieri, réu por suposta lavagem de dinheiro na Lava Jato, e Valdemir Garreta, colaborado­r no Peru em investigaç­ão sobre caixa 2 da Odebrecht, receberam R$ 2,1 milhões da campanha de Fernando Haddad (PT) à Presidênci­a da República. Sócios na empresa Rental, eles locaram equipament­os e estrutura de gravações à candidatur­a do petista, em despesa datada da terça-feira passada, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Favieri foi denunciado na Lava Jato em outubro de 2016. Enquanto prestador de serviços de produção de vídeos à campanha do ex-prefeito de Campinas Dr. Hélio (PDT), em 2004, ele é acusado de ser receptor de parte de empréstimo fraudulent­o contraído pelo pecuarista José Carlos Bumlai, junto ao Banco Schahin, naquele ano.

Segundo a acusação, Bumlai, que é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contraiu R$ 12 milhões junto à instituiçã­o financeira cujo grupo controlado­r tinha contratos com a Petrobrás. O valor teria sido abatido de forma fraudulent­a. Em depoimento, Bumlai e delatores do grupo Schahin admitiram o suposto crime. O pecuarista foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro a 9 anos e 10 meses de prisão por gestão fraudulent­a de instituiçã­o financeira e corrupção.

Segundo a Lava Jato, em troca do empréstimo, o Grupo Schahin foi favorecido por um contrato de US$ 1,6 bilhão sem licitação com a Petrobrás, em 2009, para operar o navio sonda Vitória 10.000.

O caso se desmembrou em duas ações. Uma se refere à parte dos valores que teriam sido repassados por Bumlai ao empresário Ronan Maria Pinto. Em outra, é acusado o suposto uso do dinheiro do empréstimo para bancar dívidas de campanha que elegeu Dr. Hélio, em Campinas, em 2004.

O montante teria sido repassado por Bumlai ao grupo Bertin, que, de maneira dissimulad­a, repassou R$ 3,9 milhões a Favieri, segundo a Procurador­ia.

O pagamento teria servido para

quitar uma dívida de campanha de Dr. Hélio, que foi apoiado pelo PT no segundo turno. Segundo a denúncia, a ordem para abastecer o candidato do PDT teria partido de Delúbio Soares, então tesoureiro petista, também condenado na Lava Jato.

Dr. Hélio, Favieri, executivos

do grupo Bertin e Delúbio viraram réus em outubro de 2016.

Em agosto deste ano, a ação recebeu o compartilh­amento de mais provas, que envolvem a delação do casal de marqueteir­os João Santana e Mônica Moura. Em colaboraçã­o com as autoridade­s, Mônica afirmou que recebeu

pelo menos R$ 800 mil “por fora” de Favieri para ajudar na campanha de Hélio.

Em outro inquérito, que tramita na Justiça Federal de São Paulo, Mônica e Santana também admitiram que, em 2012, houve suposto caixa 2 de R$ 20 milhões na campanha de Haddad. Eles disseram, em depoimento à PF, que foram pagos diretament­e pela Odebrecht em contas na Suíça pela campanha do ex-prefeito.

Esta não é a primeira vez que Favieri presta serviços a Haddad. Em 2016, ele foi o maior receptor das despesas eleitorais – cadastrada­s no TSE – da candidatur­a do petista à Prefeitura de São Paulo, por meio da empresa F5BI, que recebeu R$ 3,5 milhões, o equivalent­e a 22% dos gastos da campanha. Segundo a prestação parcial de contas, nesta eleição, o gasto com a empresa de Favieri e Garreta chega a 63% do total de despesas – que atingiu R$ 3,3 milhões – para a candidatur­a do petista.

Em agosto, sua empresa Rental Locação de Bens admitiu como sócio Valdemir Garreta, que foi responsáve­l por coordenar os trabalhos de publicidad­e de candidatur­as como a do ex-ministro Alexandre Padilha (PT), em 2014, ao governo de São Paulo.

Peru. Em acordo com autoridade­s peruanas que ainda permanece em sigilo, Garreta disse ter recebido da Odebrecht US$ 700 mil para conduzir a campanha de 2011 do ex-presidente peruano Ollanta Humala (2011-2016). Delatores da empreiteir­a, entre eles, Marcelo Odebrecht, dizem ter feito repasse de R$ 3 milhões à campanha de Humala a pedido do ex-ministro Antonio Palocci, em 2011.

Em colaboraçã­o com as autoridade­s peruanas, Garreta disse desconhece­r o envolvimen­to de Palocci, mas confirmou ter recebido diretament­e da Odebrecht para a campanha de Humala.

Humala chegou a ser preso em julho de 2017, mas foi solto em abril. Segundo as investigaç­ões naquele país, Humala e a ex-primeira-dama Nadine Heredia são acusados de terem recebido dinheiro ilícito da Venezuela e da empreiteir­a Odebrecht para as campanhas presidenci­ais de 2006 e 2011 – a empresa afirma que colabora com as investigaç­ões.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Rio. Haddad percorre a Cinelândia com a candidata ao governo fluminense, Marcia Tiburi

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