Indicação de Jorge Zelada é atribuída a Temer e Cunha
Diretor ligado ao MDB coordenava área que cobrou 5% de propina sobre contrato de R$ 800 milhões
O presidente Michel Temer, os ex-presidentes da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (MDB-RN) e Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o ex-deputado Fernando Diniz (MDB-MG) indicaram a nomeação à Petrobrás, em 2008, de Jorge Zelada para a Diretoria Internacional, segundo afirmou o ex-ministro Antonio Palocci, em delação premiada. Preso na Operação Lava Jato, Zelada devolveu R$ 56 milhões à Petrobrás.
A indicação dos emedebistas foi feita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil. Palocci afirmou que Diniz, então parlamentar do PMDB, “exigiu” a Diretoria Internacional da estatal petrolífera. Disse, ainda, que Diniz era “notadamente corrupto”. O exdeputado morreu em 2009.
Segundo o ex-ministro, “inicialmente houve a recusa da nomeação de João Henriques”, lobista investigado por supostamente operar repasses ao MDB no esquema alvo da Lava Jato. Palocci alegou então que Diniz, então líder da bancada do PMDB mineiro, com apoio Henrique Eduardo Alves, Eduardo Cunha e Temer, “consegue fazer Lula nomear Jorge Zelada para a diretoria”.
Palocci afirmou também na colaboração que “houve pressão do PMDB pela nomeação de diretor da área internacional da Petrobrás, com episódios de trancamento da pauta do Congresso, por exemplo”.
O ex-ministro disse em seu acordo de delação que “pode exemplificar que o PMDB, ao ocupar a Diretoria Internacional da Petrobrás, tratou de promover a celebração de um contrato de SMS na área internacional com a Odebrecht com larga margem para propina, a qual alcançava cerca de 5% do valor total de US$ 800 milhões, ou seja, US$ 40 milhões”.
O ex-ministro declarou ainda que “o contrato, tamanha a ilicitude revestida nele, teve logo seu valor revisado e reduzido de 800 para 300 milhões”.
Contrato. O contrato PAC SMS, no valor de US$ 825 milhões, era referente à manutenção de ativos sucateados da estatal em nove países, entre eles a refinaria de Pasadena, no Texas, Estados Unidos. O ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria da Silva, que também fez delação premiada, disse que o encontro se deu no escritório político de Temer, em São Paulo, em 15 de julho daquele ano. Faria disse que se surpreendeu com a forma com que se tratou de propina.
A assessoria do governo Temer afirmou que, “conforme esclarecido anteriormente, a indicação de Jorge Zelada foi do PMDB (hoje MDB) de Minas Gerais, e não houve participação do presidente Michel Temer na escolha do nome”. As defesas de Zelada, Henrique Alves e Eduardo Cunha não responderam até a conclusão desta edição.