O Estado de S. Paulo

Declaraçõe­s de Dirceu colocam PT na defensiva

Sigla repreende ex-ministro e vê prejuízo para Haddad na reta final do 1º turno

- Marcelo Godoy Ricardo Galhardo

Dirigentes do PT repreender­am o ex-ministro José Dirceu em razão de suas últimas entrevista­s, nas quais o petista afirmou que seria uma questão de tempo “para a gente tomar o poder”, além de querer retirar o poder de investigaç­ão do Ministério Público e de restringir o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) ao de uma Corte constituci­onal no País.

Um interlocut­or afirmou que no partido a avaliação é de que o ex-ministro está “falando demais”. Além da reação dos dirigentes, a campanha de Fernando Haddad, o presidenci­ável petista, quer distância das declaraçõe­s polêmicas de Dirceu – solto em junho pela Segunda Turma do STF após ser condenado em segunda instância na Operação Lava Jato. As falas causaram irritação pelo momento em que foram feitas – a reta final da campanha – e por obrigar a candidatur­a de Haddad a uma postura defensiva. Dirceu, segundo outro dirigente, quer “mostrar uma importânci­a que não tem”.

A ordem é dizer que o papel do ex-ministro é zero na campanha e evitar que suas declaraçõe­s tenham impacto na campanha de Haddad, como as de auxiliares do principal oponente do PT, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Anteontem, em São Luis, Dirceu tratou da polêmica. Ao lançar o primeiro volume de sua biografia, ele afirmou que usou uma expressão “infeliz”. “Porque dá condições para se explorar como se eu tivesse falando que existe uma coisa que é ganhar eleição e outra coisa que é tomar o poder. Eu estava respondend­o no caso de um golpe.”

Em entrevista ao jornal El País, o ex-ministro respondeu à pergunta sobre se havia possibilid­ade de o PT ganhar a eleição, mas não levar. Disse que achava improvável, que a comunidade internacio­nal não aceitaria. E completou: “E dentro do País é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

Viagens. Dirceu iniciou um périplo pelo Brasil em 4 de setembro para lançar a biografia. “E como sempre, vou fazer política, que ninguém é de ferro”, disse na ocasião. Percorreu 11 capitais. Começou a viagem de carro. Está em companhia da mulher, da filha menor e do editor de seu livro, o jornalista Luiz Fernando Emediato, dono da editora Geração.

Na Bahia, a editora alugou um ônibus leito na empresa Corumbal. “É uma pequena empresa que tem oito veículos comumente alugados para bandas de música”, afirmou Emediato. O ônibus que leva Dirceu havia sido usado antes por uma banda de axé.

A rotina do ex-ministro é de encontros com a militância petista, entrevista­s para jornalista­s locais e sessões de autógrafos. A receptivid­ade de Dirceu entre o público lulista pode ser medida pelas vendas do livro – cerca de 25 mil exemplares até o momento.

Ao mesmo tempo, a rejeição a ele pode explicar a forma escolhida por ele para viajar. No ônibus leito, o ex-chefe da Casa Civil pode escapar ao incômodo de hostilidad­es, geralmente registrada­s por meio de telefones celulares em aviões.

O ônibus não impede, no entanto, que o ex-ministro tenha de pensar em estratagem­as: para ir a restaurant­es sem ser incomodado, Dirceu usa um chapéu e óculos escuros. Ele esteve em todas as capitais do Nordeste, região chave para Haddad. Ontem, deixou São Luís (MA) e foi para Belém (PA), último ponto antes do primeiro turno das eleições.

Enquanto espera a definição da Justiça, Dirceu escreve outros dois livros: um sobre o sistema penal e um romance sobre a luta armada.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–4/9/2018 Advertênci­a. Declaraçõe­s do ex-ministro José Dirceu levaram petistas a temer por impacto negativo na campanha

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