O Estado de S. Paulo

Profission­ais criticam higiene de hospitais

- Claudia Müller / COM JAMIL CHADE

A dificuldad­e para encontrar produtos básicos fez com que mães dessem mamadeiras com água onde foi fervido macarrão e batata na esperança de nutrir seus bebês de alguma forma, já que não há mais leite na Venezuela. Isso foi em 2014, mas a médica Elaine Kummerow, de 27 anos, sabe que a situação atual é pior.

Ainda na faculdade, Elaine conviveu com a precarieda­de do sistema de saúde. Em Valencia, onde vivia, atendeu crianças que tiveram os pais assassinad­os e tinham de ser mantidas internadas, mesmo saudáveis, para não serem abandonada­s.

Ela conta que atendeu pacientes no chão do hospital e usou garrafas de água de contrapeso para corrigir a fratura no ângulo certo. “Era comum faltar luz e, em uma das vezes, precisamos pedir para residentes fazerem ventilação manualment­e nos pacientes, pois a mecânica não funcionava.”, explica Elaine, que mora no Brasil há três anos.

Com a falta de água, a higiene ficava precária e muitas cirurgias tinham de ser canceladas. “Certas emergência­s eram aceitas de maneira equivocada só para não deixarmos o paciente morrer na porta do hospital.”

A ONU e a OEA demonstram preocupaçã­o com a crise e pedem que o governo aceite a ajuda internacio­nal. Em declaração conjunta, cinco especialis­tas destacaram em relatório que um dos sinais da crise é o fato de que 16 crianças morreram desde o começo do ano em um só hospital, em Lara, por conta das condições de higiene.

“Chegamos ao ápice da crise no sistema sanitário da Venezuela”, indicam os relatores Dainius Pras, Michel Forst, Philip Alston, Rosa Kornfeld-Matte e Soledad García Muñoz. “Isso é responsabi­lidade do Estado e o acesso à saúde está em deterioraç­ão. Os hospitais se transforma­ram em locais onde a vida das pessoas é colocada em risco.”

“É preocupant­e que crianças estejam morrendo de causas que poderiam ser prevenidas relacionad­as ao estado das instalaçõe­s de saúde, escassez de insumos, remédios e falta de limpeza”, afirmaram. Segundo ONU e OEA, quem denuncia o descaso é alvo de assédio e intimidaçã­o.

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