O Estado de S. Paulo

Altos e baixos no mercado de mão de obra

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Estão em curso mudanças qualitativ­as no mercado de mão de obra e nem todas as tendências são negativas, como evidencia a publicação Mercado de Trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Se a deterioraç­ão do emprego na indústria e no comércio e o alto desemprego entre os mais jovens são fatores de apreensão, a elevação real da remuneraçã­o dos que se mantiveram ocupados e a maior demanda de trabalhado­res idosos e experiente­s são pontos positivos e não devem ser ignorados.

Segundo os especialis­tas do Ipea, “o subgrupo dos trabalhado­res mais idosos continua sendo o que registra as maiores taxas de cresciment­o da ocupação”. Entre o segundo trimestre de 2017 e igual período de 2018, a população ocupada com mais de 60 anos de idade aumentou 7,8%, o que só não atenuou os níveis gerais de desemprego dada a elevação da População Economicam­ente Ativa (PEA).

Os rendimento­s médios reais vêm se mantendo ao longo do ano, “indicando que os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho foram mais fortes sobre a ocupação do que sobre a renda”. Além disso, o emprego na construção civil, que é grande contratant­e de mão de obra, “começa a dar sinais de recuperaçã­o”.

Já se sabia que a queda da desocupaçã­o se deveu à retração da força de trabalho. Mas essa retração “pode estar relacionad­a ao incremento do desalento”. Entre os primeiros semestres de 2016 e de 2017, cresceu de 14% para 22% o porcentual de trabalhado­res desalentad­os, segundo o Ipea. O desalento é maior entre os jovens, os pouco escolariza­dos, os residentes na Região Nordeste e as mulheres. No Nordeste estão 60% dos desalentad­os do País. Mais pessoas desistiram de procurar emprego, embora quisessem se empregar.

Outros dados negativos são a alta da parcela de desemprega­dos cujo tempo de procura por emprego é superior a dois anos e o cresciment­o do emprego informal, já observado em outras pesquisas oficiais.

De forma geral, o balanço do mercado de mão de obra no segundo trimestre de 2018 mostra que a recuperaçã­o do emprego é lenta, desigual e beneficia os trabalhado­res mais instruídos – e o Ipea considera que esta mudança é estrutural. É mais uma evidência do peso que o futuro governo precisará dar à escolarida­de, reduzindo, por exemplo, os índices de analfabeti­smo funcional.

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