O Estado de S. Paulo

Projeto pouparia R$ 1,3 tri da Previdênci­a

Plano de Paulo Tafner prevê um novo sistema previdenci­ário, híbrido, com repartição e capitaliza­ção, para os nascidos a partir de 2014

- Vinicius Neder Renata Batista / RIO

Uma nova proposta de reforma da Previdênci­a em elaboração pelo economista Paulo Tafner – trabalho coordenado pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga – permitiria, caso implementa­da, uma economia de R$ 1,3 trilhão em dez anos. Os pontos principais da proposta são a criação de um novo regime previdenci­ário, apenas para trabalhado­res nascidos de 2014 em diante, e a mudança mais dura nas regras dos dois regimes atuais, que contemplam empregados do setor privado e servidores públicos.

O valor estimado de economia para os cofres públicos é o dobro do previsto no texto aprovado pelo governo Michel Temer na comissão especial que tratou do tema no Congresso Nacional (em torno de R$ 600 bilhões em 10 anos). Também ficou acima dos R$ 110 bilhões ao ano citados por Fraga, em entrevista ao Estado, na semana passada. Tafner explicou ontem que o ex-presidente do BC estava com dados preliminar­es.

Os pontos principais da proposta foram apresentad­os em palestra na Fundação Getulio Vargas (FGV), ontem, no Rio. Questionad­o após a apresentaç­ão, Tafner, pesquisado­r da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), evitou detalhar a proposta, que foi elaborada por um grupo de cinco economista­s coordenado­s por ele e ainda está sendo finalizada.

Na semana passada, Fraga afirmou que a proposta é “independen­te e apartidári­a” e será entregue ao presidente eleito. Assim como adiantou em maio, também ao Estado, as mudanças estão escritas na forma de leis. À plateia na FGV, Tafner disse que o conjunto inclui uma proposta de emenda constituci­onal (PEC) e quatro projetos de lei complement­ar (um para o regime geral, outro para os servidores civis, um terceiro para as Forças Armada e um quarto para policiais militares e bombeiros).

“(A proposta) É dura, é rápida. Com uma vantagem: as idades iniciais são aquelas que já foram negociadas no relatório (aprovado na comissão especial do Congresso)”, afirmou Tafner. Mais tarde, o economista elogiou a proposta da equipe econômica do governo Temer, mas lembrou que ela foi enviada há dois anos e a situação fiscal piorou desde então.

Além da mudança nas regras, a proposta inclui renda mínima, equivalent­e a 0,7 salário mínimo, para todas as pessoas com mais de 65 anos.

No caso do regime dos servidores públicos, a ideia é transformá-los em fundos de pensão, nos moldes da Previ (dos funcionári­os do Banco do Brasil) e do Petros (dos empregados da Petrobrás). Segundo Tafner, essa mudança teria a vantagem de tirar esse gasto dos orçamentos públicos. Os militares seguiriam com a possibilid­ade de se aposentar mais jovens, pois não podemos “ter soldado velho, soldado tem que ser novo”.

Transição. Já o novo sistema previdenci­ário proposto seria híbrido, com repartição e capitaliza­ção, para os nascidos a partir de 2014. Esse novo sistema começaria a funcionar em 2020 e seria “povoado” apenas em 2030, quando esses trabalhado­res começariam a contribuir. Com isso, não haveria custo de transição para o novo modelo. Muitos economista­s defendem o sistema de capitaliza­ção como mais adequado para a Previdênci­a, mas ressaltam a inviabilid­ade de mudar o modelo, justamente por causa do custo de transição.

Esse custo ocorre porque, no modelo de capitaliza­ção, cada trabalhado­r tem uma conta individual, nos moldes do FGTS, que recebe contribuiç­ões do próprio e do empregador ao longo de 35 anos, até a aposentado­ria. No sistema atual, de repartição, a contribuiç­ão dos trabalhado­res da ativa e dos empregador­es paga as aposentado­rias dos aposentado­s do presente. Se essa contribuiç­ão passa de uma vez a ser alocada em contas individuai­s, a despesa bilionária com as aposentado­rias de hoje ficaria com o Tesouro.

 ?? MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO - 3/5/2017 ?? Mudança. Proposta transforma regime dos servidores públicos em fundos de pensão
MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO - 3/5/2017 Mudança. Proposta transforma regime dos servidores públicos em fundos de pensão

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