O Estado de S. Paulo

Tesouro vai bancar R$ 90 bi em subsídios do BNDES

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O Tesouro Nacional ainda tem que arcar com uma conta de R$ 90 bilhões em subsídios de operações de crédito com o BNDES pelos próximos anos até a duração final desses empréstimo­s. De 2008 até agosto de 2018, o governo já gastou R$ 190 bilhões de subsídios – R$ 19 bilhões por ano, de acordo com dados do Tesouro divulgados pelo Ministério da Fazenda.

O custo total da política de empréstimo­s ao BNDES para acelerar o cresciment­o econômico durante o governo dos expresiden­tes Lula e Dilma Rousseff atingiu R$ 280 bilhões, a preços de hoje.

O gasto com subsídio é maior do que o orçamento de investimen­tos do Ministério dos Transporte­s, que somou R$ 145,6 bilhões entre janeiro de 2008 a dezembro de 2017. Ou seja, o governo poderia ter dobrado o investimen­to no Ministério dos Transporte­s e, mesmo assim, ainda sobrariam R$ 45 bilhões.

Os dados do Tesouro mostram que os pagamentos antecipado­s do BNDES ao Tesouro Nacional reduziram o custo dos subsídios desses empréstimo­s em R$ 20 bilhões. Como houve recentemen­te uma renegociaç­ão para que o BNDES pague integralme­nte a sua dívida com o Tesouro até 2040 e não mais em 2060, esse custo dos subsídios deve ter uma nova redução. Mas a queda será pequena, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

Fatura. O diretor da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado, Gabriel Leal de Barros, afirma que a fatura deixada pela política de incentivo à tomada de empréstimo­s junto ao BNDES ainda é significat­iva e deveria servir de alerta para que a prática não seja repetida no futuro. “Vamos conviver por muitos anos com esse custo sem ter tido o benefício sobre o investimen­to”, diz.

Segundo ele, estudos já mostraram que a injeção de recursos do Tesouro no banco de fomento acabou tendo efeito nulo sobre a taxa de investimen­to no País, pois as empresas apenas substituír­am o financiame­nto privado pelo crédito mais barato do BNDES.

“O que os estudos mostram é que não tem sentido econômico retomar essa política que não teve efeito, num momento em que ainda temos custo elevado com subsídio. Temos que fazer o oposto, reduzir subsídio para acelerar o processo de ajuste fiscal”, afirma Barros.

O Tribunal de Contas da União (TCU) ainda não julgou o mérito do processo que investiga as emissões feitas pelo Tesouro ao BNDES, operações realizadas por fora do Orçamento. Em relatórios preliminar­es, a área técnica da corte de contas alertou para o elevado custo da política e recomendou a devolução dos recursos.

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