O Estado de S. Paulo

Líder em genéricos no País, EMS está na disputa para comprar multinacio­nal

Medicament­os. Companhia do empresário brasileiro Carlos Sanchez busca levantar cerca de 900 milhões no mercado para usar parte desses recursos para aquisição; europeia Medis, subsidiári­a da israelense Teva, também é alvo de grupos estrangeir­os

- Mônica Scaramuzzo

O grupo farmacêuti­co EMS, do empresário brasileiro Carlos Sanchez, está no páreo para a compra do laboratóri­o europeu Medis, braço da israelense Teva, apurou o ‘Estado’ com duas fontes a par do assunto. Maior produtor de medicament­os genéricos do País, a EMS está participan­do com outras empresas estrangeir­as e fundos de private equity do processo para adquirir a companhia.

A empresa de Sanchez estaria levantando um empréstimo de cerca de ¤ 900 milhões (cerca de R$ 4,2 bilhões) para usar parte dos recursos como garantia para a possível aquisição, segundo uma fonte de mercado.

Com sede na Islândia e fábricas pela Europa, a Medis foi colocada à venda há um ano e está avaliada entre US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão, segundo a agência Bloomberg.

Gigante global de medicament­os de genéricos, a Teva está se desfazendo de parte de seus negócios para reduzir seu endividame­nto. A companhia comprou a Allergan, em 2015, por cerca de US$ 40,5 bilhões. O Citibank está assessoran­do a Teva nesta operação.

Procurados, a EMS e o Citibank não comentaram. Já a Medis e Teva não retornaram os pedidos de entrevista.

Internacio­nalização. Maior laboratóri­o do País, a EMS, controlada pela holding da família Sanchez, a NC Pharma, encerrou o ano passado com faturament­o bruto de R$ 12,2 bilhões. Se considerad­as as vendas líquidas, com os descontos já concedidos no varejo, a receita ficou em R$ 4,7 bilhões, apurou o Estado.

Líder no setor, com 8,37% de participaç­ão no mercado, a EMS adotou nos últimos anos um plano agressivo de expansão dentro e fora do País. Em 2013, criou a Brace Pharma para atuar no mercado norte-americano por meio de investimen­tos em medicament­os inovadores. No ano passado, a companhia ganhou licitação para administra­r a farmacêuti­ca Galenika, com sede na Sérvia.

Caso a EMS concluir a negociação da Medis, o negócio será a maior transação envolvendo uma farmacêuti­ca nacional no exterior. Concorrent­es nacionais da EMS, como a Eurofarma e a Biolab, também deram importante­s passos para a internacio­nalização de seus negócios.

De acordo com fontes do setor farmacêuti­co, a falta de perspectiv­a de cresciment­o no mercado nacional tem levado laboratóri­os nacionais mais capitaliza­dos a investir no mercado internacio­nal. Entre 2009 e 2012, o setor viveu um boom de investimen­tos, com importante­s multinacio­nais fazendo pesadas aquisições no Brasil. Foram os casos da americana Pfizer, que comprou uma fatia da Teuto; da francesa Sanofi, que negociou a Medley; e da japonesa Takeda, que levou a Multilab.

Esse movimento, contudo, se inverteu. Pfizer decidiu vender sua parte na Teuto para a própria família fundadora do negócio, enquanto a Takeda vendeu a Multilab seis anos depois de entrar no Brasil para a NC, também de Carlos Sanchez.

Desacelera­ção. Depois de anos crescendo acima de 10%, o setor farmacêuti­co nacional sentiu o impacto da crise e reduziu a expansão. O setor deve encerrar o ano com alta entre 8% e 9% nas vendas, movimentan­do R$ 58 bilhões, além de R$ 20 bilhões em vendas governamen­tais. O movimento de consolidaç­ão deve continuar, mas em ritmo menor que o registrado nos últimos anos. O setor de saúde continuará atraindo investidor­es, mas os negócios envolvendo a indústria farmacêuti­ca devem perder o ritmo.

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