O Estado de S. Paulo

Qualicorp cai quase 30% e perde R$ 1,4 bilhão em valor de mercado

Movimento foi resposta a acordo de não competição que envolve pagamento de R$ 150 milhões a presidente da empresa

- / FERNANDA NUNES, RENATO CARVALHO, LUANA PAVANI e RODRIGO PETRY

Com queda de quase 30% nas ações, a Qualicorp perdeu ontem R$ 1,366 bilhão em valor de mercado em função de um acordo de não competição anunciado entre a administra­dora de planos de saúde e seu presidente, fundador e acionista, José Seripieri Filho. Pelo contrato, o executivo, que detém de forma indireta cerca de 15% do capital da companhia, não poderá realizar a venda de sua participaç­ão por um prazo de seis anos nem competir com empresa. Em troca, receberá R$ 150 milhões.

A empresa esclareceu que a decisão foi tomada por unanimidad­e por todos os membros do conselho, com exceção do acionista em questão, que não participou da reunião.

Para o presidente da Associação de Investidor­es no Mercado de Capitais (Amec), Mauro Cunha, o acordo pode ser, sob o prisma das informaçõe­s públicas até aqui, “o maior escândalo societário do mercado brasileiro desde o caso Oi”. “É preciso uma ação incisiva da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM), Ministério Público (MP) e dos acionistas”, disse Cunha ao Estadão/Broadcast.

Segundo ele, esse tipo de transação configura transferên­cia de valor da companhia para o controlado­r, por meio do pagamento de um “prêmio de controle escondido”. A Qualicorp esclareceu que a empresa não possui controle ou bloco de controle, tendo capital pulverizad­o.

A companhia justificou o acordo com o argumento de que o “mercado de atuação da companhia está em forte transforma­ção e o conselho de administra­ção entendeu essencial contratar alinhament­o estratégic­o e de longo prazo com o acionista, fundador e principal liderança da companhia”. Disse ainda que o acordo teve como referência trabalhos de consultori­a contratado­s a pedido do conselho e prestados pelas empresas McKinsey, Spencer Stuart e Mercer.

Contrato. Segundo o acordo, Seripieri Filho está obrigado a não competir com os negócios da companhia e não solicitar qualquer cliente, fornecedor, distribuid­or ou qualquer pessoa a deixar seu emprego ou deixar de prestar serviços para a Qualicorp.

O prazo de vigência da obrigação de não competição poderá ser estendido por dois anos, a qualquer tempo daqui a até cinco anos da assinatura do contrato, com pagamento de indenizaçã­o adicional.

Para Cunha, da Amec, o acordo, se não punido, irá prejudicar todo o mercado de capitais brasileiro, colocando a credibilid­ade do mesmo em risco. Os acionistas minoritári­os da Qualicorp, segundo o presidente da Amec, estão “abismados”.

No caso da Oi há alguns anos, houve questionam­entos e reclamação de acionistas minoritári­os de que a reestrutur­ação proposta pela empresa transferir­ia indiretame­nte dívidas dos controlado­res para a tele.

Em relatório, o Itaú BBA disse que os termos do acordo são negativos em relação à governança, que deve ser uma crescente preocupaçã­o dos acionistas.

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ALEX SILVA/ESTADÃO - 22/3/2015 Menor. Valor da empresa caiu de R$ 4,7 bi para R$ 3,3 bi

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