Com RCB, Bradesco entra na briga pela recuperação de créditos vencidos
Aquisição. Em negócio avaliado em R$ 224 milhões, banco adquiriu fatia de 65% da empresa especializada na recuperação dos chamados ‘créditos podres’; Bradesco foi o último grande banco a entrar nesse mercado, que ultrapassa a cifra de R$ 200 bilhões
O Bradesco anunciou ontem a aquisição de 65% da RCB Investimentos, especializada na recuperação de créditos vencidos e inadimplentes. O valor da transação não foi revelado, mas segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’, o banco deve desembolsar R$ 224 milhões à vista pela aquisição. O Bradesco chegou a olhar outros ativos, de acordo com fontes do mercado, mas acabou optando pela última grande noiva disponível, com R$ 20 bilhões em carteiras adquiridas e foco no varejo.
Com a investida, além de aprimorar a recuperação de créditos dentro de casa, o Bradesco espera participar ativamente do setor. O banco era o único dos grandes que não tinha o seu próprio braço especializado em recuperação de crédito vencido e inadimplente (NPL, na sigla em inglês).
O movimento começou com a venda da Recovery, do BTG Pactual, para o Itaú Unibanco, em 2015. Na sequência, o Santander Brasil comprou 70% da gestora Ipanema, que foi rebatizada e passou a se chamar Return. O Banco do Brasil também já atuava no mercado com a sua própria gestora, a Ativos.
A investida dos pesos pesados do varejo bancário na recuperação de crédito faz todo sentido. Isso porque o elevado volume de créditos inadimplentes e não pagos e que foi agravado pela recente crise do Brasil acendeu a lanterna dos players no Brasil.
Apesar de menos desenvolvido que outros mercados como o europeu e o americano, o segmento de NPL verde e amarelo ultrapassa os R$ 200 bilhões, considerando empréstimos corporativos e também operações de varejo em atraso há mais de 180 dias, conforme números da consultoria KPMG. Se levados em conta os créditos vencidos há mais de 90 dias, o montante supera a casa R$ 500 bilhões – ou o equivalente ao total de ativos consolidados dos bancos BTG Pactual, Safra, Votorantim e Banrisul, segundo dados do Banco Central.
Para aperfeiçoar o processo de recuperação desses créditos, os grandes bancos resolveram se aliar a empresas especializadas e trazer o negócio para dentro de casa. Este filme não é novo. A estratégia também foi usada no crédito consignado, aquele com desconto em folha de pagamentos, e também em parte no de maquininhas (POS, na sigla em inglês).
Participação. Embora ainda não tivesse feito uma aquisição no segmento, movimento já esperado por analistas, o Bradesco estava ativo no mercado de crédito podre nos últimos semestres. De fora desse segmento até o final de 2016, o banco tem mantido uma frequência constante. De lá para cá, já teria se desfeito de quase R$ 18 bilhões.
Apesar de ter adquirido uma fatia majoritária da RCB, o banco afirmou que os fundadores da empresa permanecerão como sócios e se manterão à frente da administração da companhia, juntamente com o banco. A compra ainda depende de aval dos órgãos reguladores.