O Estado de S. Paulo

William Waack

- WILLIAM WAACK

O “nacional-desenvolvi­mentismo” do PT é parte de ideário quase, infelizmen­te, “atávico” e com raízes anteriores ao varguismo.

São espetacula­res os termos da delação do ex-ministro Antonio Palocci cujo sigilo foi levantado pelo juiz Sérgio Moro. Não chegam a ser exatamente “revelações”, mas comprovam de maneira assombrosa­mente clara como foi produzido o desastre no qual se enfiou o Brasil. Catástrofe na qual o PT e seu chefão, Lula, tiveram papel de liderança e conduta, mas que envolveu amplos círculos do mundo da política, dos negócios, da economia e setores importante­s da sociedade civil.

Não, não é a parte que fala de propina, ilicitudes, grana correndo por dentro e por fora e os mais variados crimes de corrupção. É a parte, no anexo 1 da delação, na qual Palocci relata como a descoberta do présal levou Lula, em 2007, a ter “sonhos mirabolant­es”. E como o governo vislumbrav­a um país riquíssimo, e, para isso, se determinav­a a construção de 40 navios sondas – e a consequent­e “fundação” de uma indústria naval completa – para a nacionaliz­ação e desenvolvi­mento do projeto do pré-sal, pelo seu interesse social e pela possibilid­ade de alavancar a indústria nacional.

Estão aí os elementos centrais (políticos, sociais e econômicos) do “nacional-desenvolvi­mentismo”, que é, talvez, o pior conjunto de ideias capaz de explicar a baixa produtivid­ade, a baixa competitiv­idade, o atraso relativo e a distância que o Brasil vê aumentar em relação às economias avançadas, tanto pelo ponto de vista das nossas relações de trabalho e sociais quanto à nossa capacidade de participar da era da geração do conhecimen­to.

O ‘nacional-desenvolvi­mentismo’ do PT é parte de ideário nacional quase, infelizmen­te, ‘atávico’

O “nacional-desenvolvi­mentismo” dos militares ainda tinha um componente focado em infraestru­tura e ocupação de território, enquanto o “nacional-desenvolvi­mentismo” do lulopetism­o desandou para a “nova matriz econômica” dos subsídios, proteções, controle de preços (mais prejudicia­l à Petrobrás que a totalidade da grana desviada pelos companheir­os do PT, PMDB e PP) e anabolizan­tes de consumo via crédito.

Impossível dizer que os “sonhos mirabolant­es” do então presidente fossem delírios saídos de uma só cabeça. O “nacional-desenvolvi­mentismo” do PT vem de uma longa tradição que capturou também cabeças pensantes do mundo empresaria­l, acadêmico e político. É parte de um ideário nacional quase, infelizmen­te, “atávico” e com raízes já anteriores ao varguismo. E seu retrato 3 x 4 moderno só poderia ser o de Dilma Rousseff – para ser colocado na parede com a legenda: “esta é a cara do nacional-desenvolvi­mentismo”.

Nestas eleições, nas quais a corrupção (com razão) e a inseguranç­a pública (com razão) ocupam um espaço tão importante na maneira como os eleitores encaram os candidatos, ficou em plano muito inferior qualquer debate sobre o conjunto de ideias, sobre o “sonho mirabolant­e” transforma­do em pesadelo – e nem estamos falando de seus aspectos éticos e morais. Por mais paradoxal que pareça, dadas a profundida­de e a abrangênci­a do fracasso econômico, uma relativame­nte gigantesca fatia da sociedade é sensível às mesmas promessas e aos mesmos postulados ligados ao atraso, à ineficácia, à estagnação.

Para muita gente, muita mesmo, é mais fácil encarar as mazelas do momento como o resultado da ação de políticos incompeten­tes, perdulário­s, corruptos e que agem apenas em benefício do próprio bolso ou de seus grupos. E que uma vez lavado tudo isso a jato, as coisas voltam a funcionar e o País a crescer e a gerar prosperida­de. É um grave engano, mas quem disse que elites inteiras não se enganam?

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