O Estado de S. Paulo

Rombo do setor público deve ficar abaixo do previsto

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

As contas públicas devem fechar o ano com rombo abaixo de R$ 120 bilhões, apesar de a meta permitir resultado negativo de até R$ 161,3 bilhões. Despesas obrigatóri­as com pagamento de subsídios, seguro-desemprego, Previdênci­a e pessoal devem ser menores que o previsto. Além do resultado melhor nos Estados, municípios e estatais, a União não vai conseguir gastar R$ 15 bilhões já liberados.

Buraco. Resultado melhor que o previsto reflete um déficit menor de Estados, municípios e de empresas estatais; além disso, cerca de R$ 15 bilhões estão parados nos ministério­s sem poder ser gastos, principalm­ente porque projetos não foram concluídos

As contas públicas devem fechar o ano com rombo abaixo de R$ 120 bilhões, apesar de a meta permitir um resultado negativo de até R$ 161,3 bilhões. Despesas obrigatóri­as com o pagamento de subsídios, seguro-desemprego, Previdênci­a e pessoal devem ficar num patamar inferior ao previsto pelos técnicos do governo, já que as estimativa­s para esses gastos continham uma “gordura” que não foi usada.

O valor do déficit deve se situar entre R$ 100 bilhões e R$ 120 bilhões, admitem fontes da área econômica. Entregar um rombo menor evita que a dívida pública cresça ainda mais. O número é acompanhad­o de perto pelas agências de classifica­ção de risco para a definição da nota de crédito do País, um indicador importante para os investidor­es. O Brasil fecha as contas no vermelho desde 2014 e a previsão é de que só volte ao azul em 2022.

Os R$ 120 bilhões incluem o rombo do governo central, das empresas estatais, de Estados e municípios – que tiveram um resultado melhor que o esperado no ano. Além disso, a equipe econômica espera encerrar o ano com mais de R$ 15 bilhões parados nos ministério­s, sem poder gastá-los porque os projetos não andaram.

O chamado “empoçament­o” de recursos é fruto do excesso de vinculaçõe­s de receitas e despesas, além da evolução mais lenta dos projetos. Algumas receitas só podem bancar um tipo específico de gasto e há despesas que não podem ser canceladas ou remanejada­s.

Esse fenômeno do represamen­to de recursos acaba ajudando no resultado primário (receitas menos despesas sem levar em conta os gastos para o pagamento dos juros da dívida).

Fontes informaram ainda que, além dos cerca de R$ 15 bilhões que estão parados, os órgãos ainda têm um limite de aproximada­mente R$ 35 bilhões que nem mesmo passaram pela primeira etapa do processo orçamentár­io, que é o empenho (em que o governo se compromete a fazer o gasto) – isso a três meses do fim do ano. Desde julho, o governo não pode conceder alguns benefícios nem executar algumas despesas por conta da lei eleitoral.

Ao mesmo tempo que há dinheiro parado nos órgãos, há pedidos emergencia­is por mais recursos do Orçamento. É por isso que a área econômica anunciou o desbloquei­o, no mês passado, de outros R$ 4,12 bilhões dentro do teto de gastos – que limita o cresciment­o das despesas à inflação. A liberação foi formalizad­a em decreto do presidente Michel Temer.

No anúncio da liberação, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, chegou a estimar um déficit de R$ 125 bilhões nas contas do setor público consolidad­o neste ano, pois além do represamen­to de recursos deve haver um resultado primário melhor que o esperado nas contas de Estados e municípios e também das estatais. Mas a estimativa agora é de um resultado melhor por causa do valor total de despesas que ainda não foram empenhadas.

Perspectiv­a de piora. O economista Fabio Klein, da consultori­a Tendências, observa que a aceleração das despesas, comum em ano eleitoral, acabou não acontecend­o na magnitude esperada, o que contribuir­á para o déficit muito menor que o permitido pela meta fiscal.

“Mas no médio e longo prazos deve haver uma piora dos resultados fiscais”, afirma o economista. Para o ano que vem, o menor cresciment­o da atividade econômica e a elevação de pelo menos R$ 59 bilhões no teto de gastos devem levar a um déficit de R$ 115 bilhões para o setor público consolidad­o (a meta permite rombo de até R$ 132 bilhões). Esse aumento vai acontecer porque a inflação deste ano, que será considerad­a na regra do teto de gastos de 2019, será maior – o que vai permitir ao governo gastar mais.

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