O Estado de S. Paulo

Antes do ponto. Tomates verdes ganham espaço em restaurant­es paulistano­s.

Mais firmes, menos aguados e com acidez agradável, tomates que ainda não estão maduros sobem no conceito de chefs paulistano­s

- Danielle Nagase

Tomates verdes fritos eram a grande atração do Whistle Stop Café, um restaurant­e fictício do Alabama nos anos 1920, cenário do filme Fried Green

Tomatoes, de John Avnet. A receita que deu nome ao filme de 1991 anda sendo lembrada por aqui – ela está no cardápio do El Carbón, de Juscelino Pereira. Nas mãos do chef da casa, Marcelo Martino, as fatias do tomate débora, bem verdinhas, são empanadas em farinha panko antes de ganharem sotaque espanhol, temperadas com páprica defumada e aiöli picante.

O lado verde do tomate tem sido cada vez mais explorado em restaurant­es da cidade, apesar de seu uso gastronômi­co não ser exatamente uma novidade – repare nos tabuleiros de acarajé (eles estão ali, picadinhos, prontos para rechear o bolinho). Pressa de esperar amadurecer? Nem de longe. O que os chefs querem com o tomate verde é ampliar o leque de texturas e sabores. O uso é diferente do tomate maduro, já que ele é mais firme e menos adocicado.

Telma Shiraishi, do Aizomê, que toda semana sai em busca de ingredient­es frescos para o seu omakasê (menu-degustação japonês), deu de cara com momotaros ainda verdes na feira e teve a ideia de servi-los como tempurá. “Ele é consistent­e, não tem tanta umidade e, assim, a fritura se mantém sequinha. Não daria certo se estivesse maduro”, conta a chef. Ela tempera o aguemono (belisco frito) com pitadas de flor de sal e de shisô roxo seco.

Em busca de um “caldinho delicado e mais ácido”, a chef Renata Vanzetto, do Ema, bateu tomates carmem verdes na centrífuga – inteiros, com casca e tudo – e aproveitou o líquido ralo e suave da dessora para preparar um consommé, que rega seu lagostim com ovas, creme azedo e dill. No Evvai, Luiz Filipe Souza faz parecido: usa a fruta verde para fazer a água de tomate que serve com lagostim, no menu-degustação, incrementa­do com morangos fermentado­s e baunilha do cerrado.

Já o chef Francisco Pinheiro, do Méz, de cozinha variada, aposta na crocância do tomate caqui verde e faz um vinagrete para temperar as lâminas de abobrinha com homus de beterraba, opção de entrada no restaurant­e. Marcelo Laskani, vez ou outra, serve entre os pratos do dia do Più o olho-de-cão (peixe) chapeado com coco, curry, sururu e pico de gallo verde (tipo de vinagrete), feito com a fruta não madura.

Ingredient­e local. Por não ter à mão os tradiciona­is tomatillos mexicanos, fruta da família da physalis cujo cultivo não vingou por aqui, Hugo Delgado, da Taquería La Sabrosa, teve a ideia de substituí-los por tomate italiano verde. “É uma gambiarra”, brinca, “mas dá certo porque ele tem acidez, não é doce e ainda tem a cor do tomatillo.”

Antes de ir para o liquidific­ador, o tomate é brevemente refogado com pimenta jalapeño, abobrinha, cebola e alho para ganhar sabor tostado. Depois de pronta, a salsa vai parar no recheio de tacos como o carnitas, um dos mais pedidos na casa, que também leva carne de porco, cebola, coentro, limão e guacamole.

Na contramão de Hugo, o chef Piero Franchini, do OpyCo, na Vila Romana, que investe numa “cozinha urbana”, criou uma receita para aproveitar os tomates verdes holandeses que dão sopa por aí. “Um dia cheguei no meu fornecedor e vi caixas e mais caixas encalhadas. Como são colhidos antes da hora para chegar ainda frescos em São Paulo, alguns acabam não amadurecen­do (cerca de 30%, de acordo com o fornecedor) e ficam à mercê”, explica.

Além da fruta verde descascada e crua, “para não perder o umami”, a salsa mameluco leva taioba refogada, alho, castanha-do-pará e queijo meia cura artesanal, tudo batido no liquidific­ador – o resultado lembra o molho romesco, feito tradiciona­lmente com tomate e amêndoas. Densa, ela acomoda o polvo grelhado sobre lenha de caqui. Farofa de tucupi preto, feita com farinha de mandioca de Bragança, acompanha.

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 ?? GABRIELA BILÓ/ESTADÃO ?? Japão e México. Tempurá de momotaro, do Aizomê (à esq.), e o carnitas, taco de porco com salsa verde picante, da Taquería La Sabrosa Onde. Aizomê. Al. Fernão Cardim, 39, Jardim Paulista. 3251-5157. El Carbón. R. Pamplona, 1.704, Jardim Paulista. 4171-0727.Ema. R. Bela Cintra, 1.551, Consolação. 98232-7677.Evvai. R. Joaquim Antunes, 108, Pinheiros. 3062-1160.Méz. R. Dr. Mário Ferraz, 561, Itaim Bibi. 2538-8196.OpyCo. R. Mariquita de Tolêdo César, 20, Vila Romana. 2389-9455. Taquería La Sabrosa. R. Augusta, 1.474, Consolação. 2925-6189.
GABRIELA BILÓ/ESTADÃO Japão e México. Tempurá de momotaro, do Aizomê (à esq.), e o carnitas, taco de porco com salsa verde picante, da Taquería La Sabrosa Onde. Aizomê. Al. Fernão Cardim, 39, Jardim Paulista. 3251-5157. El Carbón. R. Pamplona, 1.704, Jardim Paulista. 4171-0727.Ema. R. Bela Cintra, 1.551, Consolação. 98232-7677.Evvai. R. Joaquim Antunes, 108, Pinheiros. 3062-1160.Méz. R. Dr. Mário Ferraz, 561, Itaim Bibi. 2538-8196.OpyCo. R. Mariquita de Tolêdo César, 20, Vila Romana. 2389-9455. Taquería La Sabrosa. R. Augusta, 1.474, Consolação. 2925-6189.
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NA INTERNET Veja receitas com tomate verde em paladar. estadao.com.br
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WELLINGTON NEMETH Delicado. Lagostim e consommé de tomate verde, do Ema
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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Mar verde. Espetinho de polvo grelhado em salsa verde de tomate, do OpyCo
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ANTONIO RODRIGUES

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