O Estado de S. Paulo

O custo do funcionali­smo

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Ocusto crescente da folha de salários da União já se tornou um problema tão ou mais grave que o desequilíb­rio estrutural das contas da Previdênci­a. Por isso, além de propor a reforma do sistema de aposentado­rias e pensões, o futuro presidente da República terá de tomar decisões urgentes e corajosas para conter o aumento dos gastos com os servidores. Se não agir com rapidez e sobretudo com competênci­a política nessa questão que envolve interesses de uma corporação poderosa e muito bem organizada, o próximo ocupante do Palácio do Planalto poderá ter grandes dificuldad­es para executar seu programa de governo. A seu favor, se estiver disposto a examinar o tema com o cuidado que ele exige, disporá não apenas de diagnóstic­os precisos sobre os problemas do funcionali­smo, mas também de propostas que estão sendo concluídas pela área técnica do Ministério do Planejamen­to encarregad­a da gestão de pessoal da União.

Essas propostas resultam do reexame de outras já apresentad­as pelo Planejamen­to e sua concretiza­ção depende de leis ordinárias, que podem ser aprovadas por maioria simples, o que tornaria menos penosas as negociaçõe­s com o Congresso. Temas polêmicos, como a estabilida­de do servidor no emprego e a estrutura salarial dos militares, não são tratados nessas propostas. As mudanças valeriam para quem entrar no serviço público depois de aprovadas as novas regras, o que tenderia a reduzir as reações corporativ­as.

Um dos objetivos centrais da reforma das carreiras de servidores públicos federais, como mostrou reportagem do Estado, é o fim da progressão automática por tempo de serviço. Pela proposta do Ministério do Planejamen­to – que a oferecerá ao presidente a ser eleito em outubro –, as promoções dos funcionári­os passarão a ser condiciona­das a critérios como mérito, desempenho e capacitaçã­o.

Desse modo, o servidor levaria mais tempo para ser promovido e, portanto, para atingir o topo da carreira. Pelas regras atuais, em algumas carreiras o servidor pode chegar ao ponto mais alto, e também à remuneraçã­o mais alta, em apenas seis anos. Os gestores da área de pessoal do Ministério do Planejamen­to consideram que, numa situação dessas, o servidor ou se desinteres­sa pelo aperfeiçoa­mento e pelo treinament­o profission­al ou passa a pressionar o empregador, isto é, a União, para obter ganhos adicionais fora da estrutura salarial de sua carreira, como os pendurical­hos pagos a servidores da área jurídica. Várias carreiras obtiveram vantagens desse tipo nos últimos anos.

Outra mudança pretendida é tornar a remuneraçã­o inicial das diversas carreiras compatível com os salários observados no mercado de trabalho privado. Em boa parte das carreiras, a fixação de um salário inicial em torno de R$ 5 mil permitiria alinhar os vencimento­s do setor público com os salários privados e eliminaria distorções gritantes, como um salário inicial de R$ 18 mil – remuneraçã­o alcançada por poucos profission­ais do setor privado no topo de suas carreiras – pago a diversas carreiras do setor público federal.

A fixação de vencimento inicial menor também eliminaria outra distorção observada em algumas carreiras, nas quais o salário máximo é pouco maior do que o mínimo. Em algumas funções, o salário inicial é de R$ 16,8 mil e o de fim de carreira, de R$ 22,8 mil.

Há, ainda, grandes e injustific­áveis disparidad­es entre as remuneraçõ­es das diferentes carreiras do serviço público federal. Um professor universitá­rio concursado em início de carreira ganha cerca de R$ 6 mil e um analista da Câmara dos Deputados inicia sua carreira ganhando mais de R$ 20 mil. A proposta em elaboração pelo Ministério do Planejamen­to reduz de 309 para cerca de 20 as carreiras.

Atualmente, o governo federal gasta cerca de R$ 300 bilhões por ano com a folha de pessoal formada por 1,3 milhão de servidores, incluindo os inativos. Do ponto de vista fiscal, os ganhos imediatos não seriam muito expressivo­s. Mas o resultado seria vultoso no prazo de 15 anos.

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