O Estado de S. Paulo

Temor de derrota no 1º turno leva tensão ao PT

Rejeição de Haddad disparou nas pesquisas; partido expõe diferenças e procura culpados

- Ricardo Galhardo

O desempenho do candidato Fernando Haddad nas mais recentes pesquisas do Ibope e Datafolha e a ameaça de uma derrota no primeiro turno para Jair Bolsonaro (PSL) acentuaram diferenças internas e levaram o PT a procurar culpados e buscar correções na reta final da disputa presidenci­al. O principal revés da candidatur­a Haddad ocorreu no índice de rejeição, que disparou nos últimos dias – crescendo de 9 a 11 pontos porcentuai­s nas sondagens dos institutos divulgadas nesta semana.

Segundo relatos, as discordânc­ias entre o círculo mais próximo de Haddad e o grupo ligado à direção do PT ficaram evidentes na reunião da coordenaçã­o da campanha realizada anteontem, na casa que abriga a produtora de vídeos da campanha, em São Paulo.

Enquanto um grupo defendia que o candidato imponha mais sua personalid­ade e seja “mais Haddad” nesta reta final para amenizar os efeitos do antipetism­o, outro exigia a manutenção do roteiro original traçado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Operação Lava Jato –, no qual o candidato é o porta-voz do programa de governo elaborado pelo PT.

Aos poucos, as críticas até aqui veladas ao programa de governo, considerad­o “radical” por muitos petistas, começam a ficar públicas. Na terça-feira, o deputado Paulo Teixeira (PTSP) afirmou, durante evento de campanha em um bar na Vila Madalena, na zona oeste da capital paulista, que Haddad deve abandonar a proposta de convocação de uma Constituin­te, prevista no programa.

“Tira do programa. Dá uma tesoura para recortar esse negócio de Constituin­te, que já está sendo explorado pela direita”, disse Teixeira, sob aplausos.

O diagnóstic­o de que uma onda de fake news direcionad­a para ao eleitorado evangélico de baixa renda é o maior motivo para o aumento da rejeição ao candidato também é alvo de especulaçõ­es internas. Para setores importante­s do PT, a campanha falhou ao subestimar o potencial de estrago das fake news. A área jurídica também é alvo de críticas por não conseguir derrubar na Justiça as postagens falsas em tempo compatível com o ritmo da campanha presidenci­al.

Até a semana passada integrante­s da coordenaçã­o da campanha considerav­am as fake news inofensiva­s e se diziam mais preocupado­s com a cobertura da mídia tradiciona­l, segundo eles antipática ao PT. “A campanha tem respondido prontament­e a todas calúnias e notícias falsas, o que não quer dizer que isso é suficiente”, afirmou o secretário nacional de Comunicaçã­o do PT, Carlos Árabe.

Árabe admite que a estrutura de Bolsonaro nas redes, segundo o petista montada em 2013, é mais eficiente e bem estruturad­a do que a do PT, criada

a partir de 2016.

O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, responsáve­l pelo setor jurídico da campanha, foi procurado mas não respondeu.

O desempenho sofrível dos candidatos do PT aos governos de São Paulo, Luiz Marinho, e do Rio, Marcia Tiburi, também é apontado por dirigentes e lideranças petistas como um dos motivos para que o ritmo de

cresciment­o de Haddad nas pesquisas tenha diminuído. Marinho, com 8% das preferênci­as, segundo o Ibope, tem, por enquanto, o pior desempenho de um petista da história no maior colégio eleitoral do País. Marcia, com apenas 5% no Ibope, amarga a sétima colocação no Estado que tem o terceiro maior eleitorado do País.

Haddad, que teve cresciment­o meteórico desde que foi oficializa­do candidato, no dia 11 de setembro, estacionou em 21% na penúltima pesquisa Ibope/Estado/TV Globo e oscilou positivame­nte para 23% na sondagem divulgada ontem. Petistas ainda temem que Bolsonaro seja eleito na votação em primeiro turno.

Temer. O PT tenta estancar o cresciment­o do candidato do PSL o associando à política econômica do governo do presidente Michel Temer (MDB). “Infelizmen­te o governo Temer termina melancolic­amente e o que eu vejo de mais triste ainda é o Bolsonaro querer dobrar a aposta do governo Temer”, disse Haddad à Rádio Jornal de Pernambuco.

Ainda ontem começou a circular no horário eleitoral a primeira inserção da campanha petista na TV que cita nominalmen­te Bolsonaro. Na peça, o PT afirma que o candidato do PSL votou a favor de medidas do governo Temer e “contra o trabalhado­r” como a reforma trabalhist­a e conclui: “Já basta o Temer”.

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NELSON ALMEIDA/AFP Divisão. Haddad dá coletiva no Instituto Lula; grupo que apoia ex-prefeito defende mudanças no tom da campanha petista

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