O Estado de S. Paulo

Xico Graziano deixa o PSDB e vai apoiar Bolsonaro

Ex-chefe de gabinete de Fernando Henrique Cardoso no Planalto diz que partido cometeu ‘erros’ e que seu voto agora será anti-PT

- Pedro Venceslau

Um dos mais próximos amigos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e exchefe de gabinete do tucano na Presidênci­a da República, o engenheiro agrônomo Xico Graziano decidiu deixar o PSDB e criticou os “erros” cometidos pelo partido desde o fim da eleição presidenci­al de 2014. Ao Estado, Graziano afirmou que vai apoiar Jair Bolsonaro (PSL) na disputa.

“Venho tendo divergênci­as com o PSDB desde o fim da eleição de 2014. Fui virando um patinho feio no partido. Achei um erro questionar a eleição daquele ano e depois tirar a Dilma (Rousseff) sem tirar o (Michel) Temer. Meu voto agora será anti-PT”, afirmou Graziano.

Ex-deputado federal pelo PSDB, Graziano também foi secretário de Meio Ambiente de José Serra no governo paulista. Em 2014, foi um dos coordenado­res da área digital da campanha presidenci­al de Aécio Neves.

Graziano foi também um dos principais diretores do Instituto Fernando Henrique Cardoso. “Mantenho a admiração e a amizade com o ex-presidente. Tenho relações pessoais com ele até hoje. Nos vemos toda semana”, disse o agora ex-tucano.

Questionad­o se não há constrangi­mento em apoiar um candidato que sugeriu “fuzilar” FHC quando o tucano era presidente, Graziano minimizou. “Eu estava lá (no governo) quando ele disse isso. Não é o caso de levar ao pé da letra. Conheço o Bolsonaro. Nunca tive nada contra ele do ponto de vista moral”, afirmou.

O ex-deputado, porém, evita falar sobre como o amigo recebeu a sua decisão e não se arrisca a dizer quem FHC vai apoiar no segundo turno, caso o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) não chegue lá.

A decisão de Graziano reforçou a debandada de aliados de Alckmin, que permanece estagnado nas pesquisas de intenção de voto a quatro dias do pleito.

A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada ontem mostrou o tucano com 7%. Auxiliares de Alckmin tentam manter o otimismo e apostam agora no debate entre presidenci­áveis da TV Globo, que será exibido hoje. Os tucanos também minimizara­m decisão de Graziano e o apoio de candidatos da coligação de Alckmin a Bolsonaro.

“O oportunism­o é muito comum nas campanhas. Isso ocorre em todas as eleições e faz parte da cultura política brasileira”, disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), um dos coordenado­res da campanha do ex-governador.

Projeções. O discurso oficial dos tucanos é de que o resultado do primeiro turno é imprevisív­el, mas o PSDB já tem uma narrativa para o dia seguinte a votação.

A sigla projeta eleger 50 deputados federais, pelo menos 6 senadores e tem grandes chances de vencer em Estados importante­s como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

“Apesar das pesquisas, nós acreditamo­s que o Geraldo vai para o segundo turno. Mas em qualquer circunstân­cia o PSDB vai sair muito forte dessa eleição. Vai ser protagonis­ta do quadro político”, disse Torres.

Otimismo à parte, os tucanos também projetam de forma reservada um racha no segundo turno. Enquanto boa parte da bancada no Congresso defende o apoio a Bolsonaro, os chamados “cabeças brancas”, grupo de fundadores do partido vai atuar para impedir esse movimento e prefere apoiar Fernando Haddad (PT).

A tendência é de que o PSDB libere seus quadros nos Estados. Já Alckmin fica numa posição delicada. Não teria como apoiar Bolsonaro, que foi o alvo principal de sua campanha, nem o PT, que é um adversário histórico do partido.

 ?? JOSE PATRICIO/ESTADÃO-10/3/2016 ?? Ex-partidário. Graziano evita falar sobre como FHC recebeu sua decisão de sair do PSDB
JOSE PATRICIO/ESTADÃO-10/3/2016 Ex-partidário. Graziano evita falar sobre como FHC recebeu sua decisão de sair do PSDB

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil