O Estado de S. Paulo

‘Não é hora de fazer autocrític­a no PSDB’, diz Aloysio

Chanceler critica colegas de partido que ameaçam deixar campanha de Alckmin, estagnado nas pesquisas ao Planalto

- Vera Rosa

Único sobreviven­te do PSDB no governo, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira passou um “pito” nos colegas de partido que começaram a abandonar o candidato tucano à Presidênci­a, Geraldo Alckmin, e disse ficar “espantado” com o tom das cobranças de correligio­nários.

“Não é hora de fazer autocrític­a nem de discutir rumos da campanha e do PSDB, muito menos em público”, afirmou o ministro das Relações Exteriores ao Estado. “Será que não estão vendo que uma coisa dessas joga água no moinho do PT? O que me espanta é que ninguém cobra que o Haddad faça autocrític­a de nada”, emendou ele, em uma referência ao candidato do PT, Fernando Haddad.

O “fogo amigo” tomou conta do PSDB, e vários tucanos desfiaram um rosário de críticas à atuação de Alckmin – estagnado nas pesquisas de intenção de voto. Houve até quem se aproximass­e do deputado Jair Bolsonaro (PSL), que lidera a corrida ao Planalto, estimuland­o traições nas fileiras de outros partidos aliados.

Ex-presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) chegou a dizer ao Estado, no mês passado, que o partido cometeu “erros memoráveis”. O principal deles, na avaliação de Tasso, foi a entrada no governo de Michel Temer, com a ocupação de quatro ministério­s. “Foi a gota d’água, junto com os problemas do Aécio (Neves). Fomos engolidos pela tentação do poder”, afirmou o senador, que em 2017 substituiu Aécio por alguns meses, no comando do PSDB, após o colega virar alvo da Lava Jato.

Aloysio voltou a defender a sustentaçã­o do PSDB à gestão Temer, na esteira do impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT), e disse que o clima eleitoral – marcado por “tensão, injúrias e propostas sumárias” – não se presta a análises serenas. “Depois da eleição, quando baixar a poeira, o PSDB poderá fazer um balanço desapaixon­ado”, disse. “Agora, temos de lutar até o último minuto para o Alckmin ir ao segundo turno.”

‘Estado de espírito’. Na semana passada, uma declaração de Aloysio à BBC News Brasil provocou comentário­s de que ele estaria apoiando Bolsonaro. Na entrevista, o ministro disse que o parlamenta­r “joga de acordo com as regras da democracia” e sua eventual eleição não traria “nenhum retrocesso” para as relações internacio­nais do Brasil.

“Eu apoiando Bolsonaro? Qual é o partido do Bolsonaro? Eu mesmo já disse que ele é um estado de espírito, não tem uma proposta política”, insistiu Aloysio, ao lembrar que estava respondend­o a uma pergunta sobre reportagem de capa da revista britânica The Economist, segundo a qual o triunfo do candidato do PSL representa­ria uma “ameaça à democracia”.

Apesar da ressalva, repetiu que não haverá mudanças nas diretrizes do Itamaraty, seja qual for o vencedor das eleições. “A política externa segue determinad­os padrões há muitas décadas, com compromiss­os lastreados por interesses concretos, como, por exemplo, a relação comercial com a China. O Bolsonaro iria romper com a China? Obviamente que não. É fato que a ênfase de um aspecto ou outro dessa política varia, como é o caso agora da Venezuela, mas não creio que haja grandes reviravolt­as”, disse. “Existe um antiameric­anismo ginasiano do PT e um filoameric­anismo (pró-americanis­mo) ingênuo do Bolsonaro, mas a política externa não será mudada pelos humores do presidente.”

Apoio. “Eu não tenho a menor identidade política com nenhum desses campos”, disse ele, recusando-se a responder quem apoiará no segundo turno, caso Alckmin não passe. Em vez disso, preferiu ironizar os efeitos de declaraçõe­s polêmicas do general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, e do exministro José Dirceu, correligio­nário de Haddad, sobre as campanhas dos adversário­s. “Dirceu está para o Haddad assim como o Mourão está para o Bolsonaro. Nós não podemos, no PSDB, trilhar esse caminho.”

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THOMAS PETER / REUTERS

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