O Estado de S. Paulo

O rali do mercado

- E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

Asúbita euforia do mercado financeiro, já denominada de efeito Bolsonaro, é a mais veemente manifestaç­ão de que o momento não é propício às análises racionais nem por quem põe dinheiro grosso na parada.

Prevalecer­am nos dois últimos dias impulsos de manada, turbinados por um antipetism­o disseminad­o – cujas causas não cabe aqui analisar – e que se aprofundar­am com essa campanha do 13 em que os eleitores captaram mais ódio e revanchism­o do que propostas para superar a estagnação e o desemprego. Desta vez, o PT renunciou a transmitir mensagens de “paz e amor” de outras campanhas.

Nessa hora, os movimentos são primários. Extrapolam o próprio comportame­nto do mercado financeiro. E têm a ver mais com as vísceras do que com a razão – não vai aqui nenhuma alusão à facada de que Bolsonaro foi vítima.

Para tomada racional de posições no mercado financeiro seria preciso avaliar o resultado das urnas e, também – e sobretudo –, o que vem depois.

São incomensur­áveis as dúvidas sobre o que seria a política econômica de um possível futuro governo do capitão Bolsonaro. Ele mesmo reconhece que não entende nada de economia, como de tanta coisa mais. Talvez tenha dificuldad­es, inclusive, de distinguir Banco do Brasil de Banco Central do Brasil. Tanto reconhece seu desconheci­mento que inúmeras vezes deixou claro que, em matéria de política econômica, consultari­a o “posto Ipiranga”, seu guru economista Paulo Guedes. Mas isso não diz nada. Tanto não diz que, por diversas vezes, desautoriz­ou declaraçõe­s sobre matéria econômica tanto do seu próprio assessor econômico quanto do seu companheir­o de chapa, o general Hamilton Mourão.

O PT foi mais explícito sobre as propostas de política econômica de um eventual governo Haddad no documento Plano Lula de Governo, cuja elaboração foi conduzida pelo próprio Haddad. Não só pelo que lá está como, também, pelo que lá não está, a perspectiv­a da volta de uma administra­ção PT leva o risco de se tornar uma sucessão de desastres, como os que se viram ao longo e ao fim do período Dilma. O tratamento dispensado pelo próprio PT a Joaquim Levy e a Nelson Barbosa, ministros da Fazenda do governo Dilma, mostram que não cabe num governo PT nenhuma administra­ção comprometi­da com o robustecim­ento dos fundamento­s da economia.

Até agora, o PT não reconheceu nenhum dos seus erros graves. Não reconheceu nem os crimes de corrupção e saques do patrimônio público revelados pelas denúncias do mensalão e pela Operação Lava Jato nem os crimes administra­tivos que culminaram na manipulaçã­o dos juros e no descalabro orçamentár­io, com todas as artimanhas contábeis e as pedaladas fiscais usadas para escamoteá-los. Além de não reconhecer a autoria dessas mazelas, deixou claro tantas e tantas vezes que será capaz de repeti-los se conquistar a faixa presidenci­al.

A euforia do mercado financeiro nos últimos dias não pode ser entendida rigidament­e, como antecipaçã­o do que vem aí, como se diz do comportame­nto da Bolsa, do câmbio e dos juros futuros, porque haverá os days after, sabe-se lá quais.

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