O Estado de S. Paulo

Euforia do mercado reflete benefício da dúvida a Bolsonaro

Pelo segundo dia seguido, Bolsa fecha em alta e dólar cai com aumento da rejeição de Fernando Haddad nas pesquisas

- / BÁRBARA NASCIMENTO, LUCIANA DYNIEWICZ, PAULA DIAS E ANNA CAROLINA PAPP

Depois de pesquisas eleitorais reforçarem o avanço de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidenci­al, distancian­do-se de Fernando Haddad (PT), a Bolsa fechou em alta (2,04%) pelo segundo dia seguido, ultrapassa­ndo os 83 mil pontos, maior patamar desde maio; já o dólar recuou 1,28%, a R$ 3,88. O movimento, ainda que mais comedido em relação ao de terça-feira, acentua o otimismo do mercado com o candidato do PSL, por ter uma agenda mais comprometi­da com as reformas – o que contrasta com o projeto petista, temido por ser mais intervenci­onista.

Houve forte euforia na abertura do pregão, em reação à pesquisa Datafolha divulgada na noite de terça-feira. O dólar chegou a bater mínima aos R$ 3,82. Na máxima, o Ibovespa bateu 85 mil pontos. Ao longo do dia, porém, houve um ajuste. “O mercado está corrigindo a queda (do dólar) dos últimos dias, que foi exagerada”, aponta o operador de câmbio da Spinelli, José Carlos Amado. No exterior, o dólar operava valorizado.

Assim como na véspera, a alta do Ibovespa foi puxada por ações que refletem percepção de risco político, como as estatais – com destaque para Banco do Brasil ON (9,07%) e Eletrobrás PNB (8,64%). “As ações de estatais sobem mais alinhadas à derrota do PT (aumento da rejeição de Hadad) do que ao avanço de Bolsonaro. O temor é de ingerência política nessas empresas, como aconteceu no passado”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador de mesa da Renascença Corretora.

O comportame­nto do mercado nos últimos dias – só em dois pregões, a Bolsa subiu quase 6% – reflete a preferênci­a dos investidor­es por Jair Bolsonaro, que se consolidou como o “candidato viável da direita”, segundo economista­s e analistas. A percepção é de que, apesar das incertezas que ele representa, sua agenda se sobrepõe ao já conhecido projeto do PT.

“O mercado dá o benefício da dúvida a Bolsonaro muito por causa do discurso econômico liberal, de redução do tamanho do Estado e de ajuste, do Paulo Guedes (responsáve­l pelo programa econômico de Bolsonaro). Para Haddad, não existe esse benefício”, diz o estrategis­ta-chefe e sócio da XP Investimen­tos, Celson Plácido.

O programa apresentad­o pelo petista não traz propostas claras para enfrentar o déficit público e fala em revogar medidas do governo Temer que agradaram ao mercado, como o teto de gastos e a reforma trabalhist­a.

“De um lado, há a volta do PT, cujos governos foram mal avaliados. Do outro, pode ser que não seja tão ruim. Há a visão central de que Guedes é liberaliza­nte”, diz o economista Silvio Campos, da consultori­a Tendências. A preocupaçã­o do mercado é com um desembarqu­e de Paulo Guedes do governo (leia mais abaixo)

Sobre a possibilid­ade de o candidato do PSL não ter base no Congresso para aprovar reformas, Plácido lembra que Bolsonaro começou a ganhar respaldo nos últimos dias, com apoio das bancadas ruralista, evangélica e da bala.

“De um lado, há a volta do PT, cujos governos foram mal avaliados. Do outro, pode ser que não seja tão ruim.” Silvio Campos

ECONOMISTA DA TENDÊNCIAS

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PAULO WHITAKER/REUTERS Ação. Apoio à candidatur­a Bolsonaro movimenta mercado

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