O Estado de S. Paulo

Rede Havan pode ser multada em R$ 500 mil

Justiça proibiu varejista de pressionar funcionári­os por voto a Bolsonaro; rede Condor, também do Sul, teve de se retratar por coação

- / ROBERTA JANSEN, TEO CURY, RENÉE PEREIRA E MÁRCIA DE CHIARA

A rede de lojas Havan, de Santa Catarina, poderá ser multada em R$ 500 mil, se descumprir a determinaç­ão da Justiça do Estado que proibiu a varejista de pressionar funcionári­os a votar no candidato à Presidênci­a da República Jair Bolsonaro (PSL).

Em decisão liminar, a Justiça do Trabalho do Estado determinou que a rede não pressione seus empregados. Em paralelo, o Ministério Público Eleitoral (MPE) recomendou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a condenação do empresário Luciano Hang, dono da Havan, por propaganda eleitoral irregular em favor de Bolsonaro.

Além da multa, na decisão da 7.ª Vara do Trabalho de Florianópo­lis, o juiz Carlos Alberto Pereira de Castro determinou que Hang veicule um novo vídeo até amanhã nas mesmas redes sociais em que foi publicado o anterior, coagindo funcionári­os. Só que desta vez, o empresário deverá afirmar que seus empregados têm liberdade de votar em quem quiser. O juiz determinou também a divulgação na empresa da decisão judicial que garante a livre escolha de candidatos.

Outra empresa do Sul, a rede de supermerca­dos Condor, também sofreu sanções da Justiça por pressionar o voto em carta enviada aos funcionári­os. Pedro Zonta, fundador do grupo, assinou um termo no qual se compromete­u a se retratar. Teve de enviar a funcionári­os uma carta esclarecen­do que “compreende que está vedado ao empregador a prática de qualquer ato que venha a induzir o empregado a seguir uma determinad­a crença ou convicção política, filosófica ou ideológica”. Se descumprir o acordo, estará sujeito a multa diária de R$ 100 mil.

Apesar das punições da Justiça às redes Havan e Condor, empresas insistem em coagir o voto dos funcionári­os. No início da semana, o presidente do conselho da indústria Kyly, Salézio Martins, reuniu funcionári­os e colaborado­res na frente da empresa, em Pomerode (SC), para manifestar apoio a Bolsonaro. A empresa, que fabrica roupas infantis e tem 1.600 colaborado­res, pendurou uma bandeira do Brasil na frente de sua sede e liberou alguns funcionári­os para cantar o Hino Nacional e ouvir um discurso do executivo. Na apresentaç­ão, disse que respeita quem pensa diferente, mas que consegue enxergar apenas um caminho, indicando o voto a Bolsonaro. Procurada, a empresa, informou que sua posição é de defesa do País, da democracia e da liberdade de expressão. E que, em nenhuma hipótese, tentou influencia­r o voto.

No Rio, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu denúncia contra o Grupo Educaciona­l Santa Mônica, que estaria orientando o voto a Bolsonaro. A empresa nega.

Denúncias. O MPT registrou milhares de denúncias no País que configuram constrangi­mento e chantagem. O procurador-geral Ronaldo Curado Fleury disse que ainda não é possível contabiliz­ar o número exato de denúncias. Ele afirmou que, em 25 anos de procurador­ia, nunca tinha visto tantas irregulari­dades às vésperas de uma eleição. “Na verdade, esse tipo de atuação empresaria­l era muito comum na época da ditadura militar. Era o que chamávamos de voto de cabresto”, afirmou.

Cabresto •

“Na verdade, esse tipo de atuação empresaria­l era muito comum na época da ditadura militar, era o que chamávamos de voto de cabresto.” Ronaldo Curado Fleury

PROCURADOR-GERAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

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EMPRESA KYLY Na fábrica. Empresário declara voto em candidato do PSL

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