O Estado de S. Paulo

Setor de tecnologia deve concentrar empresas brasileira­s em bolsas dos EUA

Mercado financeiro. PagSeguro e Arco Educação – conhecida pela tecnologia aplicada ao ensino – já abriram capital lá fora, com a Stone como próxima da fila; especialis­tas dizem, porém, que movimento de emissões no exterior não deve afetar o volume na B3

- Fernanda Guimarães

Embora o número de empresas brasileira­s anunciando emissões de ações nos Estados Unidos tenha aumentado, essa busca pelo mercado americano não deve ser interpreta­da como uma tendência abrangente, segundo especialis­tas do mercado financeiro. O consenso é que o movimento deve ficar restrito a companhias no setor de tecnologia. Logo, a tendência deverá ter efeito controlado sobre a fila de emissões de ações na B3, a Bolsa paulista.

Essa noção fica transparen­te nas transações anunciadas até o momento. A Arco Educação, por exemplo, chegou na semana passada à Nasdaq, bolsa de tecnologia americana, em virtude do sistema SAS, de ensino bilíngue. Foi o segundo IPO de uma empresa brasileira nos Estados Unidos em 2018. Em janeiro, a PagSeguro havia aberto na Nyse, em Nova York. A próxima será a adquirente Stone, que deve chegar à Nasdaq logo após as eleições no Brasil.

O responsáve­l pelo banco de investimen­to do Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema, destaca que as ofertas de tecnologia devem continuar a ocorrer nos EUA, pois as companhias estão de olho nos investidor­es dedicados ao setor. “Essas empresas se sentem mais confortáve­is em abrir o capital lá fora”, diz. Apesar disso, Zema afirma que essa solução não é adequada a todos os setores e que a B3 seguirá como o principal destino dos IPOs nacionais.

A busca por melhores preços também é um fator. Sócio da área de mercado de capitais do escritório Mattos Filho, Jean Marcel Arakawa destaca que os investidor­es externos têm mais facilidade de avaliar o valor desse tipo de ativo – e costumam valorizá-los mais.

Para o especialis­ta em mercado de capitais do Stocche Forbes Advogados, Marcos Ribeiro, o atual contexto político econômico brasileiro tem influencia­do na busca de Bolsas lá fora, uma vez que o apetite para risco no País está baixo. Para ter os pés nos dois mundos, algumas companhias estão optando pela dupla listagem. Foi o caso da Azul, que abriu seu capital na B3 e listou suas ADRs (recibos de ações) na Nyse, em 2017.

A Arco, que desembarco­u na Nasdaq semana passada e levantou US$ 194,5 milhões, desde o início mirou uma oferta nos Estados Unidos, com o objetivo de levar a empresa para dentro do ecossistem­a de tecnologia disponível por lá. “Atraímos investidor­es de qualidade para a empresa, que têm foco no longo prazo e são especializ­ados em tecnologia”, disse o presidente da companhia, Ari de Sá Neto.

O diretor da área de mercado de capitais do Credit Suisse, Eduardo de la Peña, frisa que os casos de abertura de capital fora do Brasil continuam sendo exceção. “As empresas de tecnologia acabam sendo mais comparávei­s lá fora, mas essa não é uma solução certa para todos”, afirma o executivo.

Entrave. Arakawa, do Mattos Filho, lembra que uma questão regulatóri­a acaba impedindo a listagem de algumas empresas na Bolsa paulista. Isso porque parte dessas companhias recebe aportes de fundos de private equity (que compram participaç­ões em empresas) ou passam por rodada de captações entre investidor­es, com a constituiç­ão de holding fora do Brasil.

Por causa disso, quando decidem abrir o capital, essas empresas podem realizar uma listagem no Brasil com a emissão de BDRs (recibos de ações brasileira­s), em virtude de uma restrição vigente mesmo para empresas que tenham a maior parte de seus ativos no Brasil.

O presidente da B3, Gilson Finkelszta­in, afirma que a Bolsa brasileira está atenta para este tema e que vem trabalhand­o em diversas frentes para trazer volumes que estão sendo perdidos para os EUA.

Além de buscar mudanças nas regras para os BDRs, a B3 também está trabalhand­o no segmento que dá acesso ao mercado de capitais a pequenos e médios negócios.

“Atraímos investidor­es de qualidade para a empresa, que tem foco no longo prazo” Ari de Sá Neto

PRESIDENTE DA ARCO EDUCAÇÃO

“As empresas se sentem mais confortáve­is lá fora.” Alexandre Zema

EXECUTIVO DO MORGAN STANLEY

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BRYAN R. SMITH/AFP Precificaç­ão. Investidor externo tem mais facilidade para avaliar o valor dos ativos de uma empresa de tecnologia
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