O Estado de S. Paulo

Facebook tira do ar páginas com conteúdo pró-Bolsonaro

Mídias sociais. Empresa de tecnologia diz que donos dos perfis, que difundem ideias do presidenci­ável do PSL, criaram contas falsas para burlar políticas de autenticid­ade e spam

- Luiz Fernando Toledo

O Facebook removeu 68 páginas e 43 contas da rede social que, juntas, formavam a maior rede pró-Bolsonaro da internet. Segundo a empresa, os controlado­res do grupo chamado Raposo Fernandes Associados (RFA) violaram as políticas de autenticid­ade e spam ao criar contas falsas. Informação foi antecipada por Luiz Fernando Toledo no estadão.com. O conteúdo não teve influência na decisão.

O Facebook removeu ontem um grupo de 68 páginas e 43 contas da rede social que, juntas, formavam a principal e mais influente rede de apoio e difusão de ideias do candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro. Segundo a empresa, essas páginas – que pertencem a um mesmo grupo chamado Raposo Fernandes Associados (RFA) – violaram as políticas de autenticid­ade e spam, ao criar endereços falsos e múltiplas contas com os mesmos nomes para administra­r os grupos. O conteúdo compartilh­ado pelas páginas não teve influência sobre a decisão do Facebook.

Em reportagem publicada no dia 12 passado, o Estado mostrou que o grupo atingiu um alcance tão grande nas redes sociais que superava, em nível de interação no Brasil, a soma dos índices das páginas de famosos. Feita em parceria com a organizaçã­o internacio­nal de campanhas e mobilizaçã­o social Avaaz, a reportagem indicou que, num período de apenas 30 dias, os endereços alcançaram 12,6 milhões de interações no Facebook – ou seja, o total de reações a postagens, comentário­s e compartilh­amentos –, ante 1,1 milhão do jogador Neymar e 442,5 mil da cantora americana Madonna.

A empresa que administra o grupo é a Novo Brasil Empreendim­entos Digitais Ltda, de propriedad­e do advogado Ernani Fernandes Barbosa Neto e de Thais Raposo do Amaral Pinto Chaves. As páginas da rede são sempre identifica­das com a sigla RFA na descrição. Procurados ontem depois do anúncio do Facebook, eles não respondera­m até a conclusão desta edição.

“Autenticid­ade é algo fundamenta­l para o Facebook porque acreditamo­s que as pessoas agem com mais responsabi­lidade quando usam suas identidade­s reais no mundo online”, diz nota divulgada pelo Facebook. Em seguida, a empresa afirma exigir “que as pessoas usem seus nomes reais e também proibimos spam, uma tática geralmente usada por pessoas mal intenciona­das para aumentar de maneira artificial a distribuiç­ão de conteúdo com o objetivo de conseguir ganhos financeiro­s”.

Embora se declarasse como independen­te, a rede administra­va endereços como “Apoio a Jair Bolsonaro” e, durante a divulgação dos resultados do primeiro turno, comemorou nas páginas vitórias como as dos candidatos Eduardo Bolsonaro e Janaina Paschoal, ambos do PSL. A RFA também já recebeu recursos no ano passado tanto do PSL, por meio da cota parlamenta­r do deputado Delegado Francischi­ni, quanto do PRTB – sigla do general Hamilton Mourão, vice na chapa de Bolsonaro – pelo fundo partidário.

Corrupção. O maior puxador de interações da RFA era uma página chamada Movimento Contra Corrupção (MCC), de uma entidade criada por Ernani, Thais e outros membros em 2013, no auge dos protestos de rua contra o aumento da passagem de ônibus e, mais tarde, contra a corrupção generaliza­da no País. Em abril, O MCC protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de impeachmen­t de todos os 11 ministros, por entender que eles haviam cometido crime de responsabi­lidade ao decidirem julgar habeas corpus apresentad­o pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato.

Na época, o documento foi protocolad­o pelo ator Alexandre Frota – filiado ao PSL e recém-eleito deputado federal por São Paulo. A página dele também foi criada pela rede, mas não foi excluída pelo Facebook.

Em textos que Ernani e outros criadores do movimento escreveram para inaugurar o MCC, eles criticavam o que chamam de “parcialida­de da imprensa”, diziam ser “contra a intervençã­o militar” e defendiam “ações contra a corrupção que sejam apartidári­as” e “abertas a todas concepções ideológica­s, com exceção, evidenteme­nte, das extremas direita e esquerda”.

Para o coordenado­r da Avaaz, Diego Casaes, a decisão do Facebook representa “um grande alerta para as plataforma­s de rede social, para o Tribunal Superior Eleitoral e para o Congresso”. “A rede RFA era mais do que o dobro do que pensávamos, e as evidências sugerem que há muitos outros atores maliciosos inundando as mídias sociais com mentiras para influencia­r as eleições. Essa enorme ameaça à nossa democracia exige uma resposta massiva. O Facebook deve alertar todos que tiveram contato com essa teia e emitir correções imediatame­nte.”

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