O Estado de S. Paulo

As dificuldad­es do Ibama

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Criado em 1989 para executar a Política Nacional do Meio Ambiente – aprovada oito anos antes – e para fiscalizar o uso dos recursos naturais, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) enfrenta grandes dificuldad­es materiais e institucio­nais para cumprir suas funções, das quais se destacam o combate a desmatamen­tos e a concessão de licenças ambientais.

No fim de semana passado, por exemplo, três das dez caminhonet­es do órgão estacionad­as em frente ao hotel onde estavam hospedados alguns fiscais, na cidade de Buritis, situada a 338 km de distância da capital do Estado de Rondônia, Porto Velho, foram incendiada­s. Os fiscais iam investigar um desmatamen­to ilegal e roubo de madeira detectados por satélite na região quando o atentado foi cometido. Enquanto os três veículos ardiam, um homem incitava a população a pôr fogo nas outras sete caminhonet­es, o que levou a direção do Ibama a pedir providênci­as urgentes à Polícia Militar de Rondônia e a solicitar proteção da Força Nacional. Pontes de acesso aos locais onde os crimes ambientais teriam sido cometidos também foram incendiada­s.

Esse tipo de agressão a fiscais e propriedad­es do Ibama infelizmen­te está se tornando rotineiro. No ano passado, na divisa dos Estados do Pará e Mato Grosso, foi queimado um caminhão-cegonha que transporta­va oito automóveis adquiridos pelo Ministério do Meio Ambiente para renovar a frota da autarquia na região de Novo Progresso (PA). Três meses depois, garimpeiro­s ilegais destruíram quatro veículos e os escritório­s do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio) na cidade de Humaitá, no Estado do Amazonas. Nesses locais, os fiscais do Ibama vinham promovendo operações de combate a desmatamen­tos e a garimpos ilegais e sofrendo fortes ameaças – inclusive de prefeitos.

Resultante da fusão de quatro entidades governamen­tais que atuavam na área ambiental – a Superinten­dência da Borracha, a Superinten­dência da Pesca, o Instituto Brasileiro de Desenvolvi­mento Florestal e a Secretaria Federal do Meio Ambiente –, o Ibama, que ganhou muita visibilida­de depois da Conferênci­a da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvi­mento, realizada em 1992, também enfrenta graves deficiênci­as de recursos humanos. Para atuar em todo o País, o órgão tem apenas 3.150 funcionári­os, dos quais 756 estão em condições de pedir aposentado­ria. No setor de análise de pedidos de concessão de licenças ambientais, onde tramitam cerca de 2.800 processos, a autarquia só tem 300 analistas, número considerad­o insuficien­te.

Por falta de verbas, o Ibama não tem condições de convocar concurso público para preencher as vagas dos funcionári­os que já se aposentara­m. Foram solicitada­s verbas para preencher 1.630 vagas, mas o Ministério do Planejamen­to alegou não dispor de recursos para 2018 e 2019, por causa do déficit fiscal. O último concurso promovido pela autarquia foi realizado há quase dez anos.

Por causa do contingenc­iamento do Orçamento da União, nos últimos anos o Ibama teve de fechar 70 dos 140 escritório­s que mantinha em todo o País. Também por causa das limitações financeira­s, não há pessoal suficiente para as superinten­dências que o órgão mantém em cada uma das 27 unidades da Federação. Com a previsão de mais aperto nos próximos anos, a direção do Ibama teme que o órgão esteja esgotando sua capacidade de trabalho. “O Ibama tem atuado com uma força de trabalho aquém da necessária. Com esse quadro, teremos dificuldad­es evidentes para cumprir nossas missões institucio­nais, que abrangem um amplo e complexo conjunto de temas”, afirma a presidente do órgão, Suely Franco.

Independen­temente das controvérs­ias sobre o alcance e o modo da atuação do Ibama, uma coisa é certa: o órgão pode ter sua política revista com a chegada de um novo governo, o que é comum na democracia. Mas, por sua importânci­a, em hipótese alguma pode ser asfixiado.

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