O Estado de S. Paulo

Eleito terá difícil tarefa da reconcilia­ção

Empresário­s, artistas e personalid­ades com diferentes visões atribuem ao futuro presidente a responsabi­lidade principal de apaziguar o País

- Renata Cafardo

Há os que acreditam que a sociedade se refaz rapidament­e. Outros, que vai ser difícil. Mas é consenso entre empresário­s, artistas e personalid­ades da sociedade ouvidas pelo Estado que o presidente eleito será o responsáve­l pela reconcilia­ção do País a partir de amanhã.

“A primeira coisa a ser feita por quem quer que vença é um discurso claro de que a eleição acabou, que vai governar com todo mundo e teremos uma construção coletiva no País”, diz o diretor executivo da Fundação Lemann, Deniz Mizne.

“Temos que baixar o tom, sair dessa guerra, mas isso depende do líder da nação. É preciso chamar a população à responsabi­lidade de manter a ordem e a paz”, completa o coordenado­r do movimento Agora, Leandro Machado. O grupo foi criado pela sociedade civil para influencia­r

O encaminham­ento do ajuste fiscal, a melhora da confiança, a atração de novos investimen­tos e a redução do desemprego poderão angariar gradual apoio popular, construind­o a pacificaçã­o social. Necessidad­es concretas se sobrepõem às convicções políticas.” Luiz Carlos Trabucco Cappi PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRA­ÇÃO DO BRADESCO

Quem ganhar precisa deixar explícito no primeiro minuto que a eleição acabou, que quer governar com todo mundo, fazer uma construção coletiva do País. Isso passa pelo diálogo, respeito à lei, à Constituiç­ão, às pessoas. Se não, a tensão vai continuar.” Denis Mizne DIRETOR EXECUTIVO DA FUNDAÇÃO LEMANN

uma renovação na política.

A crise política que começou em 2015 culminou em uma eleição extremamen­te polarizada, com discursos de ódio contra oponentes. O candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi esfaqueado em setembro quando fazia campanha em Juiz de Fora (MG). Foi ainda alvo de um movimento iniciado nas redes sociais, o #Elenão, que reuniu milhares de pessoas em protestos nas ruas. Fernando Haddad, que carregou uma rejeição

Estamos nesse momento trágico, um processo eleitoral radicaliza­do em que os candidatos existem em função um do outro. Não tem jeito. Vamos ter de pacificar esse País, e não vai ser com armas. A mentalidad­e belicosa só vai trazer mais guerra e aprofundar a crise.” Fernanda Montenegro ATRIZ

A sociedade se refaz. O Brasil tem protagonis­mo, tem os valores da hospitalid­ade, compreensã­o, amizade. O cotidiano, a rotina, isso que faz com que o tecido social se reconstrua. É um sistema político móvel, não é um rei, não vamos entregar o País a ele.”

Roberto DaMatta

ANTROPÓLOG­O

avassalado­ra ao PT, se disse alvo de fake news que segundo ele atingiram até sua família.

“Nunca mais teremos uma democracia silenciosa, ela é barulhenta”,

A divisão não é apenas conjuntura­l, da radicaliza­ção de campanha, há visões diferentes sobre liberdade dos professore­s, gênero, direitos reprodutiv­os, igualdade racial. É algo que se aprofundou na sociedade e vamos ter dificuldad­e para conciliaçã­o.” Boris Fausto HISTORIADO­R E CIENTISTA POLÍTICO

afirma o cientista político e professor do Insper Fernando Schuler. Já antropólog­o Roberto DaMatta não tem dúvidas de que o cotidiano e a rotina vão acabar reconstrui­ndo as relações e deixando as questões políticas de lado. “Vamos aprender a discordar e concordar, é o princípio fundamenta­l da democracia. E lembrar que temos um sistema político móvel, não é um rei, não vamos entregar o país a ele.”

Para o presidente do conselho

A reconcilia­ção é a única forma de encerrar um ciclo que começou em 2014 com a acirrada disputa entre Dilma e Aécio. Mas o primeiro passo não pode ser questionar a legitimida­de do oponente que perdeu e, sim, reconhecer que ele é parte do jogo democrátic­o.” Renato Sérgio de Lima

DIRETOR PRES. DO FÓRUM BRAS. DE SEGURANÇA PÚBLICA

de administra­ção do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, as necessidad­es concretas se sobrepõem às convicções políticas. Ele acredita que ajuste fiscal, novos investimen­tos e a redução do desemprego vão construir a “pacificaçã­o social”.

A atriz Fernanda Montenegro classifica o atual momento como “trágico”. “Mas não tem jeito. Vamos ter de pacificar esse País, e não vai ser com metralhado­ras.”

O Brasil tende a entrar na normalidad­e. Não é possível que, passada a eleição, vai ainda se discutir nazismo, fascismo. Tudo isso vai perdendo força, vai sendo normalizad­o, vai cansando. Mas nunca mais teremos uma democracia silenciosa, ela é barulhenta.” Fernando Schuler

CIENTISTA POLÍTICO

Não importa quem ganhe, não há reconcilia­ção. O mal já foi feito. É a eleição mais importante da nossa história, fez a gente descobrir quem não está alinhado com a gente. Só haveria saída se tivesse alguém no meio que conseguiss­e conciliar pautas dos dois lados.” Facundo Guerra EMPRESÁRIO

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FABIO MOTTA/ESTADÃO – 2/10/2018
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FUNDAÇÃO LEMANN – 4/12/2014
 ?? CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO – 10/9/2015 ??
CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO – 10/9/2015
 ?? JOSE PATRICIO/ESTADÃO – 28/10/2017 ??
JOSE PATRICIO/ESTADÃO – 28/10/2017
 ?? HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO – 11/10/2017 ??
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO – 11/10/2017
 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO – 21/5/2018 ??
WILTON JUNIOR/ESTADÃO – 21/5/2018
 ?? HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO – 24/8/2018 ??
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO – 24/8/2018
 ?? TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO – 15/8/2018 ??
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO – 15/8/2018

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