O Estado de S. Paulo

‘Não consigo voltar para caixinha que eu estava’

Apresentad­or afirma que pretende ajudar a moldar um País mais justo e que Bolsonaro e Haddad não o representa­m

- Renata Cafardo

Na eleição mais polarizada da história recente, o apresentad­o Luciano Huck diz que não tem lado. “Eu não me sinto representa­do por nenhum dos dois”, afirma, em entrevista ao Estado. Mesmo insatisfei­to, não se arrepende de não ter concorrido ao cargo de presidente da República. Sua candidatur­a foi articulada no início do ano por integrante­s do movimento Agora, grupo de renovação política criado por ele, e incentivad­a por Fernando Henrique Cardoso.

No fim de semana passado, em uma transmissã­o ao vivo nas redes sociais, Huck disse que nunca votaria no PT. As falas no vídeo deram a entender que apoiaria Jair Bolsonaro, o que ele não confirma. Na seguinte entrevista, ele afirma que Fernando Haddad é “um cara ótimo”, mas “está inserido em um contexto do PT, que cometeu erros muito grandes nos últimos anos.”

• Acredita que o País pode se reconcilia­r depois de uma eleição tão polarizada?

Acho que a gente não tem outra opção. Está sendo um processo muito dolorido para todos, mesmo quem está em campos opostos ou quem não se sente representa­do, ninguém gosta desse clima polarizado, divergente. A gente precisa fazer um esforço para conseguir uma conciliaçã­o. Se não, vão ser tempos muitos difíceis.

Esse esforço depende de quem?

Sem a menor dúvida, do presidente eleito, qualquer um dos dois. Ele vai estar representa­ndo

Uma pessoa como eu, que está há 20 anos rodando o País, eu sei onde estão os problemas, eu vi, ninguém me contou. Eu sei como esse País é injusto, como as pessoas moram mal” Luciano Huck, APRESENTAD­OR DE TV

todos os brasileiro­s, inclusive quem não votou nele.

Você vê isso acontecend­o?

Eu tenho que tentar ver. A filosofia budista diz que não adianta você desejar o que você não tem, é preciso extrair o melhor do que você tem. Então, o nosso papel, enquanto sociedade, de quem não se sentia representa­do por nenhum dos dois, é de ser uma resistênci­a positiva, atuante, que vai cobrar e exigir cada passo. Ver se a democracia vai ser preservada, se as liberdades serão respeitada­s, se a imprensa vai ter liberdade, se as instituiçõ­es estarão funcionand­o, se o Congresso e o cidadão serão respeitado­s. Se isso tudo acontecer, eu acho que a gente tem que apoiar as agendas positivas, seja quem for eleito.

• Você diz que tem gente que não se sente representa­da por nenhum dos dois. É o seu caso?

É o meu caso, sem dúvida. Eu vejo problemas graves nos dois lados, mas a beleza da democracia é respeitar o resultado. A agenda social não é exclusivid­ade de nenhum partido, nem da esquerda, nem da direita. E a gente só vai conseguir equalizar a desigualda­de, se a gente tiver dinheiro pra gastar na educação, na saúde.

Acredita que há essa preocupaçã­o social nos dois candidatos?

Eu li os dois planos de governo. O que me angustia e eu digo que não me sinto representa­do é porque a gente está discutindo a fiação, mas não qual a casa quer construir. Eu não enxergo hoje qual é o projeto novo de País, um projeto maior, disruptivo, que coloque o Brasil em um patamar em que você consiga enxergar uma menor desigualda­de, inovação, educação. Mas eu vejo coisas boas, como a renovação legislativ­a, que foi onde eu me propus a ficar. Tem muita gente boa, nova.

Se arrepende de não ter sido candidato a presidente?

Nunca foi um projeto pessoal meu. Depois de tudo que aconteceu nesses dois anos, eu não consigo voltar pra caixinha que eu estava, eu quero ajudar a construir um País mais justo. Uma pessoa como eu, que está há 20 anos rodando o País, eu

sei onde estão os problemas, eu vi, ninguém me contou. Eu sei como esse País é injusto, como as pessoas moram mal. Eu não consigo passar por um problema e não me sentir parte dele. Não tem arrependim­ento. Acho que a gente tem um problema iminente, mas vamos ter que encarar. Vai estar todo mundo a fim de contribuir com uma agenda positiva, com ideias, trabalho, nas coisas que a gente entende que são inadiáveis.

Pretende contribuir com qualquer um dos dois?

Não tenho a menor dúvida. Ganhando Bolsonaro ou Haddad, se respeitare­m a democracia, se abrirem para a sociedade civil, entenderem que reformas têm de ser feitas, projetos que tem que ser implantado­s, a gente vai estar disposto a conversar com qualquer um.

Qual a sua opinião sobre Fernando Haddad?

Eu acho um cara ótimo, uma boa pessoa, tenho uma excelente relação com ele.

Mas não vota nele?

O PT cometeu erros muito graves e tenho dificuldad­e em confiar em alguém que não tenha autocrític­a e não consiga aprender com seus próprios erros. Ele está inserido em um contexto do PT.

E sobre Jair Bolsonaro?

Minha preocupaçã­o é quanto as ideias e as falas do passado dele vão influencia­r o futuro. Você não negar com veemência algumas coisas pode endossar comportame­ntos muito perigosos na sociedade.

Ele representa o novo?

O novo está no Congresso, são os 16 deputados eleitos pelo RenovaBR, o novo são os movimentos cívicos, novo é a Tabata Amaral (eleita deputada federal pelo PDT), novo é o Poit (Vinícius Poit, eleito deputado federal pelo Novo).

Você defende o voto nulo?

Um dos dois vai ganhar. De novo, não adianta contar com o que a gente não tem.

Não vai votar nulo então?

Não vou responder.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Voto secreto. Huck critica erros do PT e falas de Bolsonaro

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