O Estado de S. Paulo

Lula ampliou e limitou o potencial do candidato petista

- Marco Antonio Teixeira

Fernando Haddad chega ao fim do segundo turno em dificuldad­es, mas em condições de competição bem melhores do que quando essa reta final foi iniciada. Alguns erros cometidos no decorrer de todo o primeiro turno acabaram sendo cruciais para, de um lado, limitar seu potencial de cresciment­o e aumentar sua rejeição, e de outro contribuir para uma maior aceitação da candidatur­a Jair Bolsonaro.

O grande erro da campanha petista decorreu da excessiva demora em confirmar Fernando Haddad como candidato a presidente da República. Ao levar até o limite do impossível o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT perdeu o timing da disputa, viu seus adversário­s monopoliza­rem o acesso aos debates entre os candidatos e os programas de rádio e TV, e acabou tardiament­e construind­o alianças de maneira ruidosa que tiveram impacto negativo sobre as articulaçõ­es para o segundo turno. Basta lembrar que o acordo com o PSB e a vinda do PC do B para a chapa petista provocaram um profundo mal-estar com Ciro Gomes e racharam o PT em Pernambuco.

Outro fator de desgaste para a campanha de Haddad foram as sucessivas visitas a Lula em Curitiba. Se por um lado tais encontros deram mais visibilida­de ao apoio do ex-presidente, serviram para alimentar uma estratégia adotada por adversário­s para desgastá-lo: disseminar a ideia de que Haddad, se eleito, não seria de fato o presidente e sim um preposto que governaria segundo os desígnios de Lula. Somam-se ainda como fatores de desgaste as declaraçõe­s de líderes petistas acerca de um suposto indulto presidenci­al e a fala de José Dirceu, uma semana antes do primeiro turno, de que “o PT tomar o poder” seria uma questão de tempo.

Por mais que Haddad não pudesse abrir mão de vincular sua imagem com a de Lula para obter transferên­cia de votos e chegar ao segundo turno, a dose da vinculação foi excessiva. A cúpula petista insistiu num caminho que, se foi bem-sucedido em levá-lo ao segundo turno, também foi responsáve­l por elevar sua rejeição a níveis que acabaram limitando seu potencial de voto.

Haddad chega ao dia D com a remota possibilid­ade de surpreende­r e se tornar Presidente da República. Isso só foi possível quando ele assumiu o papel de protagonis­ta de sua própria campanha. Ou seja, seu cresciment­o decorreu da percepção de que Haddad é o Fernando Haddad que foi ministro da Educação e prefeito de São Paulo. Isso é muito diferente e bem mais abrangente do que ter se limitado a se apresentar como herdeiro da candidatur­a Lula.

PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA FGV-SP

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