O Estado de S. Paulo

Divisão de siglas será obstáculo para eleito

Fragmentaç­ão no centro e cresciment­o dos extremos devem afetar governabil­idade

- Felipe Frazão /

Líder em intenções de voto, o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) teria hoje, se vitorioso, apoio de 191 deputados eleitos na Câmara. Adversário dele, o petista Fernando Haddad contaria, se eleito, com uma representa­ção inicial de até 169 parlamenta­res.

A soma de Bolsonaro inclui integrante­s de seu partido, do PTB, do PSC e do Patriota – os três que aderiram formalment­e à candidatur­a no segundo turno – e de legendas de centro e centro-direita que mostraram predileção por ele, como PSD, DEM, PRB, Podemos, Novo e PRP. A base do deputado pode ser mais elástica e chegar a 307 deputados, se somados MDB, PP, PR e siglas nanicas, que não atingiram a cláusula de barreira e devem perder congressis­tas.

A cláusula de barreira é uma regra de desempenho aprovada na reforma política de 2017 que estabelece critérios mínimos de votação para que partidos tenham acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de TV no horário eleitoral.

Já entre os aliados do petista estão contabiliz­ados os coligados PCdoB e PROS, mais os aliados no segundo turno – PSB, PDT, PSOL, Rede e PPL –, além de Solidaried­ade, PV e Avante, legendas que indicaram preferênci­a pela candidatur­a de esquerda.

No total, 30 partidos elegeram representa­ntes na Câmara – atualmente são 25 na Casa. A fragmentaç­ão de siglas médias de centro e o cresciment­o de bancadas nos extremos do espectro político são tidos como obstáculos à governabil­idade, seja de Bolsonaro ou Haddad.

Há expectativ­a de uma redução para 21 partidos no início da próxima legislatur­a, porque nove não atingiram a cláusula de barreira. As legendas grandes e médias buscam engordar suas bancadas com os 32 deputados dos nanicos que negociam fusões.

Desafio. Como a aliança partidária formal de Bolsonaro está “longe de ser suficiente”, segundo um dos caciques dispostos a apoiálo, um dos desafios será consolidar acordos com partidos do Centrão – DEM, PP, PR, PRB e Solidaried­ade –, MDB e PSD para conquistar governabil­idade. As siglas têm histórico fisiológic­o, e Bolsonaro promete não ceder a pressões, que admite existir, por espaço. Mas o candidato já declarou que não demoniza cargos comissiona­dos e não pretende acabar com os cerca de 25 mil existentes.

Líderes de partidos do grupo veem dificuldad­es na estratégia de conversar com os deputados no chamado varejo do plenário, uma tentativa de driblar liderança de bancadas e caciques.

Articulado­r político e virtual ministro da Casa Civil, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) vem conversand­o separadame­nte com parlamenta­res e caciques. Esteve com o MDB e o PSD e refez pontes no DEM, que terá representa­ntes no primeiro escalão.

“Nenhum partido de centro tem caracterís­tica de fazer oposição para marcar posição. O projeto que for bom para o País vai passar. Vamos ter um ano de lua de mel. É natural que isso ocorra, porque Bolsonaro vem com muita força da urna, com prestígio, clamor popular”, afirma o líder do MDB, deputado reeleito Baleia Rossi (SP). “Individual­mente, cerca de 80%, 90% dos deputados do MDB se declararam

“Nenhum partido de centro tem caracterís­tica de fazer oposição para marcar posição. O projeto que for bom para o País vai passar. Vamos ter um ano de lua de mel.” Baleia Rossi DEPUTADO REELEITO (MDB-SP)

votantes do Bolsonaro. O MDB não reivindica cargos, não quer absolutame­nte nada.”

Bolsonaro conta com a “boa vontade” do PSD, presidido pelo ministro Gilberto Kassab (Comunicaçõ­es), alvo frequente de críticas do candidato. Dos 34 deputados da sigla, só cinco (eleitos na Bahia e em Sergipe aliados ao PT) se opuseram a declarar apoio a ele no segundo turno.

Também do Centrão, PP e PR possuem as bancadas mais divididas entre Bolsonaro e Haddad, por causa de alianças regionais. E a base do Solidaried­ade tem feito campanha pelo petista. Mesmo assim, dirigentes não colocam nenhum dos três na oposição.

Os partidos querem manter Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidênci­a da Casa. Com trânsito na esquerda, ele desponta como favorito se propuser independên­cia do Planalto. A eleição interna passa pela sigla do presidente eleito, que costuma usar a força do Executivo para tentar emplacar um aliado, seja PT ou PSL, as duas maiores bancadas.

Em crise interna, o PSDB adotou neutralida­de, mas a expectativ­a é de que deputados apoiem a pauta econômica condizente com o programa do partido, em um governo de Bolsonaro, e façam oposição a Haddad. Esquerda. Partidos que seriam a base de Haddad espelham a oposição a Bolsonaro. Com a tendência de derrota do petista, siglas médias que cresceram, como PSB e PDT, buscam protagonis­mo. O líder reeleito do PSB, Tadeu Alencar (PE), defende uma atuação “propositiv­a”, para não transforma­r o Congresso em um terceiro turno. “Palavras de ordem já não são suficiente­s. Não vamos para o enfrentame­nto puro e simples, ficar apenas na contestaçã­o. Temos que puxar o debate econômico, da reforma tributária, do enfrentame­nto de privilégio­s, em vez de ceder à pauta primitivis­ta.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil