O Estado de S. Paulo

Efeito Bolsonaro pode eleger até 11 governador­es

Só em três Estados que definem governador hoje os líderes das pesquisas não declararam voto ou receberam apoio do deputado

- Adriana Ferraz / COLABORARA­M JONATHAS COTRIM e FILIPE STRAZZER

Se as pesquisas de intenção de voto se confirmare­m, o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) pode ajudar a eleger hoje até 11 governador­es alinhados a seu discurso. Levantamen­to feito com base nas mais recentes sondagens divulgadas pelo Ibope mostra que das 14 unidades da federação onde a disputa se estendeu ao segundo turno apenas em três os candidatos que lideram não receberam apoio ou declararam voto no deputado.

Diferentem­ente do esperado pelo próprio PSL, o partido deve sair vitorioso em três disputas: Santa Catarina, Roraima e Rondônia, onde o coronel Marcos Rocha, candidato da sigla, tem 26 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o tucano Expedito Júnior. A maior vantagem registrada por um apoiador de Bolsonaro, no entanto, se dá no Distrito Federal. Lá, Ibaneis Rocha (MDB) alcançou 75% da preferênci­a.

Em alguns casos, o apoio ao presidenci­ável foi essencial para que se chegasse ao segundo turno. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Romeu Zema (Novo), que hoje lidera as pesquisas para o governo de Minas Gerais. O candidato chegou a pedir votos para Bolsonaro quando seu correligio­nário João Amoêdo ainda participav­a da disputa presidenci­al – ele ficou em quinto lugar, somando 2,5% dos votos válidos.

“Romeu Zema foi oportunist­a. E fez isso baseado num cálculo eleitoral, o de que o eleitor poderia alinhar o seu voto, o que realmente aconteceu. Bolsonaro conseguiu alavancar seus aliados nos Estados e no parlamento, como nunca ocorreu antes”, afirmou o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP.

O candidato cita o antipetism­o para justificar seu voto em Bolsonaro. “Ele tem alguns posicionam­entos que vêm ao encontro do Novo. Com Bolsonaro na Presidênci­a e Romeu Zema no governo, Minas Gerais terá uma atenção especial para sair dessa situação crítica em que se encontra”, disse Zema, em nota. Ele lidera as pesquisas com 68% das intenções de voto, segundo o Ibope. Seu adversário, o ex-governador Antonio Anastasia (PSDB), tem 32%.

‘Ressalvas’. Já o candidato tucano ao governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, resistiu mais à onda Bolsonaro. Só declarou voto no deputado após o presidenci­ável do PSDB, Geraldo Alckmin, sair da disputa ao Planalto e ainda hoje diz que esse apoio não é “incondicio­nal”. Mas colhe os frutos da decisão ao liderar as pesquisas com 57% das intenções de voto, ante 43% do atual governador, José Ivo Sartori (MDB), que também tenta se aproximar do presidenci­ável do PSL.

“Ele (Bolsonaro) tem alguns posicionam­entos que vêm ao encontro do Novo. Com Bolsonaro na Presidênci­a e Romeu Zema no governo, Minas terá atenção especial.” Romeu Zema (Novo) CANDIDATO AO GOVERNO DE MG

“Eu declarei o voto no Bolsonaro e não deixei de fazer as ressalvas aos pontos que eu acho que merecem ressalva.” Eduardo Leite (PSDB) CANDIDATO AO GOVERNO DO RS

“Eu declarei o voto no Bolsonaro e não deixei de fazer as ressalvas e as críticas aos pontos que eu acho que merecem ressalva, especialme­nte no que diz respeito à convivênci­a pacífica entre as pessoas. O PT não pode voltar ao poder, dados os problemas que enfrentou, não só de ordem moral, mas de uma política econômica que gerou problemas para o País. Mas isso não significa adesão incondicio­nal às ideias do candidato Bolsonaro”,

disse Leite ao Estado.

No Rio e em São Paulo, a eleição ainda está aberta. Considerad­o uma espécie de azarão, o exjuiz Wilson Witzel (PSC) até mudou o “vestuário” no segundo turno: de um lado da camisa usa adesivo com seu nome e número; do outro, estampa a foto e o número do presidenci­ável do PSL. Ele tem 54% ante 46% de seu adversário, Eduardo Paes (DEM).

Witzel, assim como João Doria (PSDB) em São Paulo, tem priorizado discursos favoráveis a Bolsonaro e contrários ao PT, apesar de o partido não disputar o segundo turno no Estado. Doria (50% dos votos válidos) não fica atrás. Abusa de adesivos com o logo “Bolsodoria” para pregar voto no deputado, apesar de a recíproca não ser verdadeira. Procurado pelo tucano no Rio, o presidenci­ável se negou a gravar com Doria e, assim como no Rio, segue neutro na disputa.

Placar partidário. Com a definição da eleição nos 14 Estados em que a disputa avançou ao segundo turno, a divisão de poder entre os partidos será oficialmen­te alterada em relação ao mapa de 2014. E, antes mesmo da abertura das urnas, pelo menos três siglas já saem derrotadas: MDB, PSDB e PT.

A maior queda é do partido do atual presidente da República, Michel Temer. Os emedebista­s, que elegeram sete governador­es há quatro anos, têm a chance agora de vencer em, no máximo, três. O partido foi vitorioso em Alagoas, no primeiro turno, e deve repetir o feito no Distrito Federal e Pará.

O PSDB, que fez cinco governador­es em 2014, lidera em três Estados neste segundo turno e não venceu em nenhum no primeiro. Já o PT, que garantiu a vitória em três Estados (Bahia, Piauí e Ceará) no primeiro turno deste ano, pode ganhar também o Rio Grande do Norte, amenizando a queda – a sigla elegeu cinco na eleição passada.

Em compensaçã­o, o PSL e o DEM, que estavam fora desse mapa, podem entrar, respectiva­mente, com três e dois Estados.

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PDT/MS Mato Grosso do Sul. Juiz Odilon (à esq.), do PDT, e Reinaldo Azambuja, do PSDB, durante agendas em Campo Grande
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PSDB/MS

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