O Estado de S. Paulo

Nordeste se mantém como ‘cinturão da esquerda’

Para o PT, mesmo que Haddad não vença, região pode ajudar a diminuir o ‘tamanho da derrota’ do partido

- Vera Rosa

Reduto do PT há mais de uma década, o Nordeste impediu que Jair Bolsonaro (PSL) vencesse a disputa presidenci­al no primeiro turno e se mantém como “cinturão da esquerda” no mapa eleitoral. O candidato petista ao Planalto, Fernando Haddad, ficou à frente de Bolsonaro nos nove Estados da região e aposta nesse território para a difícil tarefa de virar o jogo.

No embate entre “os dois Brasis”, o Nordeste se transformo­u em trincheira de resistênci­a a Bolsonaro, que mudou seu plano de governo para encaixar propostas mais populares, na tentativa de conquistar votos no único pedaço do País onde ficou atrás de Haddad. Bolsonaro prometeu pagar o 13.º salário a quem recebe o Bolsa Família, ciente de que o Nordeste concentra mais da metade das famílias atendidas pelo programa.

A resposta do ex-prefeito de São Paulo, que chegou até a exibir um chapéu de cangaceiro, não tardou. Haddad anunciou que, se eleito, reajustará em 20% os benefícios do Bolsa Família. Nenhum dos dois disse de onde sairão os recursos.

Embora não tenha repetido o desempenho dos ex-presidente­s Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff no Nordeste, Haddad conseguiu, até agora, evitar que a onda bolsonaris­ta invadisse o último bastião do PT. Para a cúpula do partido, mesmo que o herdeiro de Lula não ganhe, o tamanho da derrota será importante na hora de reconstrui­r o projeto de poder.

“Vamos continuar trabalhand­o para construir um Brasil de união nacional e de paz, para acabar com essa polarizaçã­o”, disse o governador da Bahia, Rui Costa (PT), já reeleito. “Fiquei muito feliz de ver pessoas do PSDB, do DEM, de vários partidos dizerem que a votação neste domingo não será entre quem gosta do PT e quem não gosta. A votação será entre quem gosta de democracia e quem não gosta; quem gosta do Nordeste e quem não gosta.”

‘Piada de baiano’. Costa aproveitou uma gravação antiga, na qual Bolsonaro conta o que chama de “piada de baiano”, para elevar as críticas ao presidenci­ável. No vídeo, o candidato pergunta: “Por que é vantajoso comprar carro na Bahia?”. Ele mesmo responde: “Porque já vem com freio de mão puxado”. Em seguida, cai na gargalhada. Antes de fazer troça, Bolsonaro chegou a prever o contra-ataque. “Vou perder o voto da Bahia toda”, comentou, rindo.

“Respeite os baianos, candidato!”, reagiu Costa, que compartilh­ou o vídeo, divulgado nas redes sociais um dia após Bolsonaro afirmar que, se eleito, porá um ponto final na política do “coitadismo” de nordestino­s, gays, negros e mulheres.

“É mais uma afirmação que merece nossa repulsa. Mas não causa estranheza, partindo de um candidato que já declarou que trataria de forma diferente governador­es que não são seus aliados, caso eleito”, disse ao Estado o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), após conquistar o segundo mandato.

Além de Costa e de Camilo, o PT reelegeu no primeiro turno o governador do Piauí, Wellington Dias, mas perdeu Minas e Acre. Dos nove Estados nordestino­s – que concentram 26,6% dos eleitores –, apenas o Ceará não deu a maior votação para Haddad na primeira rodada da disputa. Lá, Ciro Gomes (PDT) ficou na dianteira.

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