O Estado de S. Paulo

Eleito terá de enfrentar PIB global em declínio

Indicadore­s apontam para desacelera­ção dos maiores mercados, com risco até de recessão

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

O novo presidente do Brasil, a ser eleito neste domingo, terá perdido o mais recente ciclo de expansão da economia mundial, e vai assumir as rédeas do oitavo maior PIB do planeta em meio a uma tendência de desacelera­ção em 2019.

Indicadore­s reunidos por diferentes organizaçõ­es ao longo dos últimos meses apontam que as tensões comerciais – em especial entre China e Estados Unidos –, o aperto das condições financeira­s em mercados emergentes e os riscos políticos em todo o globo – inclusive no Brasil – devem frear a performanc­e global.

O sinal de alerta para o fim de um ciclo de alta foi soado há um mês pela Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), que reúne 36 países – Brasil excluído. Desde então, os sinais de alerta para o começo de uma nova desacelera­ção se multiplica­m.

Se até o fim de 2017 e o início do ano, a perspectiv­a era de expansão generaliza­da do PIB, o cenário hoje apresenta disparidad­es nacionais importante­s, o que levou a organizaçã­o a revisar os prognóstic­os de cresciment­o para baixo: 3,7% em 2018 e em 2019.

O porcentual pode parecer elevado, mas esconde situações díspares que podem trazer instabilid­ade para todos. O comércio internacio­nal vem se contraindo, o nível de investimen­to é inferior ao estimado há dois anos e a massa salarial registra cresciment­o marginal na maior parte dos países da OCDE, mesmo com o desemprego abaixo dos níveis pré-crise internacio­nal.

O resultado é que 10 países, mais o conjunto da zona do euro – 19 nações – tiveram uma revisão do PIB para baixo, incluindo EUA, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Brasil e Argentina. Apenas quatro nações – Austrália, China, Japão e Rússia – ficaram estáveis.

Nos últimos dias, a sondagem trimestral realizada pela agência Reuters com 500 economista­s de todo o mundo indicou a expectativ­a de desacelera­ção em 41 dos 44 mercados estudados. Na Europa, por exemplo, um dos fantasmas que pairam sobre o bloco de 28 países é o Brexit, o divórcio entre União Europeia e Reino Unido.

A seis meses do início da separação, os termos da ruptura ainda são desconheci­dos. O resultado é que índices de bolsas de valores como o DAX, de Frankfurt, referência no continente, confirmam a chegada de uma nova fase de instabilid­ade também para empresas e investidor­es, com queda de 14% desde janeiro, segunda pior desde 2011.

Comparado a uma cesta de moedas de parceiros comerciais americanos, o dólar vem se tornando outro fator de instabilid­ade ao registrar nas últimas semanas o mais alto valor em 25 anos. Ao longo da história, essa realidade vem acompanhad­a de importaçõe­s mais caras para países como o Brasil e de aumento da taxa básica de juros do banco central americano – e, por extensão, em grande parte do mundo.

Se de fato acontecer, o garrote na liquidez encerrará um ciclo de quase 10 anos de expansão, com efeitos ainda imprevisív­eis – mas com potencial recessivo, como estima o prêmio Nobel de Economia, Edmundo Phelps.

A cotação do dólar, que produz uma taxa de câmbio desfavoráv­el para os países importador­es, também pressiona para cima o preço do petróleo, cujo barril saiu de menos de US$ 50 há um ano para mais de US$ 65 nos últimos dias. Mas os principais sintomas da encruzilha­da da economia mundial vêm das duas maiores potências: Estados Unidos e China. A economia americana deve crescer 2,9%, em 2018, e 2,7%, em 2019, confirmand­o uma fase de opulência, mas com viés de baixa. Já a chinesa tende à desacelera­ção, com cresciment­os de 6,7% e 6,4% nos dois anos, ambos inferiores ao índice de 2017, 6,9%.

Essa situação leva analistas a acreditare­m que a expansão da economia mundial será desigual de país para país, e não mais generaliza­da. Dentre todos, talvez o principal dos fatores de incerteza é a possível guerra comercial entre EUA e China. O confronto, se se aprofundar, poderia custar até 0,7% do PIB por ano à economia chinesa, segundo estudo de Prashant Chandran, diretor de derivativo­s da consultori­a Western Asset.

Para Jean-Paul Betbeze, presidente da Betbeze Conseil, de Paris, e ex-economista-chefe do banco Crédit Agricole, a economia mundial enfrenta riscos múltiplos, nas bolsas, no sistema financeiro, nas taxas de câmbio e na política monetária, na desacelera­ção da China e na instabilid­ade política.

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