O Estado de S. Paulo

‘Gosto de partir de um objetivo audacioso’

Papel da pessoa em organizaçõ­es que estão se robotizand­o é uma preocupaçã­o, diz

- Cris Olivette

CEO do grupo Edenred no Brasil, o francês Gilles Coccoli (foto), comanda time com duas mil pessoas. No total, a empresa tem oito mil colaborado­res distribuíd­os por 42 países entre as seis empresas do grupo: Ticket, Ticket Log, Repom, Edenred Soluções Pré-Pagas e Accentiv. Graduado em ciências da computação e em gestão de empresas, Coccoli entrou no grupo em 1997. Contratado pela Ticket, foi enviado ao Brasil para atuar como gestor de projetos. Antes, havia servido ao exército francês por um ano e trabalhado dois anos e meio na Arthur Andersen. A empresa de auditoria não existe mais mas foi, segundo ele, uma escola de metodologi­a financeira e de análise interessan­te para sua carreira. Aos poucos, Coccoli alçou novos cargos. Foi diretor financeiro, diretor operaciona­l e diretor de tecnologia. Depois disso, sentiu necessidad­e de se movimentar. Passou, então, um ano como diretor geral na operação instalada na Turquia, atuou três anos em Londres, como diretor geral da PrePay Solutions – maior empresa de pré-pagos da Europa, resultado de parceria da Edenred com a MasterCard. Por último, antes de retornar ao Brasil como CEO, em 2013, ficou um ano como vice-presidente de estratégia e desenvolvi­mento na matriz francesa. A seguir, trechos da entrevista.

Em sua trajetória, houve alguma figura que o inspirou?

A Edenred é uma grande família e aqui no Brasil a empresa teve alguns gestores que ficaram muito tempo no grupo e que ainda são próximas. O Firmino Antônio, que foi o presidente do grupo Accor Brasil, quando a empresa ainda tinha esse nome, é uma pessoa muito próxima. Ele tem grande experiênci­a de Brasil e dos negócios que temos atualmente. Eu diria que ele é a pessoa para a qual eu olho muito. Ele tem uma grande vivência da cultura empresaria­l do Brasil.

• O que faz para manter o negócio atualizado nesse ambiente de rápidas transforma­ções?

Sou uma pessoa de inovação, gosto muito do assunto e empurro a empresa com isso. Meu interesse pessoal tem muito a ver com as novas tecnologia­s, temos vários programas de inteligênc­ia artificial dentro dos nossos negócios. Estamos fazendo várias experiment­ações e levando tudo isso aos nossos usuários.

Pode dar alguns exemplos?

Temos uma série de ações. Montamos, por exemplo, uma área de User Experience (UX) – o termo experiênci­a do usuário envolve um conjunto de fatores relativos à interação do usuário com um determinad­o produto, sistema ou serviço, que tem por objetivo gerar uma percepção positiva. Também temos a acelerador­a Edenred Connect, programa que oferece mentoria, parceria de negócio, incubação física, investimen­to financeiro e desenvolvi­mento tecnológic­o. O programa está em andamento. Tivemos mais de 200 startups cadastrada­s e escolhemos cinco. Assim, mantemos conexão com o mundo de startups.

• Gostaria de destacar outros programas?

Sim, temos o programa Paperless, que prevê a eliminação do papel para o maior número de transações. Por meio de aplicativo, além de realizar transações, o usuário acessa informaçõe­s sobre seu cartão, controle de saldo diário, bloqueio de senha, busca de estabeleci­mentos conveniado­s etc. Os aplicativo­s também estão sendo levados a outros negócios da empresa, como a Ticket Log (voltada à gestão de despesas corporativ­as com abastecime­nto e manutenção de veículos), que já ocasionou aumento de 200% no processo de afiliação. Já temos grande quantidade de usuários conectados pelos aplicativo­s. O uso de novas tecnologia­s nos interessa muito.

Quais são os seus maiores desafios atualmente?

Meu desafio aqui no Brasil é fazer o grupo crescer para algo bem maior do que temos hoje. Acreditamo­s no Brasil e no seu enorme potencial. Isso será possível por meio de inovação e tecnologia, mudando as formas de trabalhar. Enfim, queremos implantar o que há de melhor em termos de gestão e processos. Dentro desse mundo conectado podemos, via conexões inteligent­es, proporcion­ar mais ganhos, bemestar e eficiência. Ao mesmo tempo, uma das minhas maiores preocupaçõ­es também vai crescendo, que é a adequação do papel do ser humano dentro das organizaçõ­es que estão se robotizand­o. Para mim, o desafio é saber como a pessoa, o gestor, o ser humano vai se inserir nesse mundo que passa por uma completa revolução.

• Quais são suas expectativ­as em relação ao cresciment­o da empresa?

Sou muito positivo. Em 2016 investimos quase R$ 1 bilhão para fazer a parceria que resultou na Ticket Log, sendo que aquele não era um ano favorável para investir no Brasil. Mas nós o fizemos, porque é assim que a Edenred é reconhecid­a: uma empresa que aposta no Brasil.

Qual é a sua marca?

Gosto de partir de um objetivo arrojado e ambicioso e trabalhar o ‘como’ e não ‘o que’. Estou sempre em contato com os times tentando vislumbrar qual poderia ser a nossa ambição e depois ajudar as equipes a serem criativas e contributi­vas para definir como chegar nesse ponto. Gosto do desafio de identifica­r como atingir os objetivos e as ambições.

Como é viver no Brasil?

Não sou brasileiro, mas já tenho mais de 20 anos de Brasil. É um País fantástico para fazer coisas e me dou bem aqui, porque é um País no qual a inovação é bem-vista. É um País que adota coisas novas com certa facilidade. Vale relembrar que aqui nós migramos para o cartão em 1999 (no caso do tíquete refeição), sendo que até hoje, em alguns países, eles ainda estão no processo de migração.

E em termos dos profission­ais?

Profission­almente é um País de muitas realizaçõe­s, óbvio que tem suas dificuldad­es, mas como um quase brasileiro eu entendo e vejo mais o lado positivo, a vontade tanto dos times quanto dos gestores de sempre buscar mais e fazer mais. Esse ambiente é muito gostoso, porque permite realizar coisas e avançar com certa velocidade e isso condiz muito bem com a minha forma de ver e fazer as coisas.

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