O Estado de S. Paulo

EM SP, DORIA E FRANÇA ESTÃO EMPATADOS.

Ibope mostra que disputa entre governador e ex-prefeito é a mais acirrada em 20 anos

- / ADRIANA FERRAZ, CAIO SARTORI, DANIEL BRAMATTI e PEDRO VENCESLAU

Na disputa ao governo de São Paulo mais acirrada em 20 anos, os candidatos Márcio França (PSB) e João Doria (PSDB) chegam numericame­nte empatados no dia da eleição. A última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo antes do pleito mostra que, pela primeira vez desde o início do segundo turno, tanto o atual governador quanto o ex-prefeito da capital estão com 50% dos votos válidos.

Nos votos totais, quando os brancos e nulos são considerad­os, França soma 43%, ante 42% do tucano. Os números representa­m aumento de quatro pontos do candidato do PSB em relação à pesquisa anterior, na última terça-feira. Já Doria oscilou um ponto para baixo, dentro da margem de erro, que é de dois pontos porcentuai­s para mais ou para menos. Brancos e nulos somam 10% e não sabem ou não respondera­m, 5%.

O Ibope também mediu a rejeição aos dois candidatos. Doria é rejeitado por 36% dos entrevista­dos, enquanto 25% disseram que não votariam em França “de jeito nenhum”. Os números representa­m oscilação de dois pontos para cima no caso do tucano e para baixo do lado do governador.

A pesquisa revela diferença significat­iva entre capital e interior. Após renunciar à Prefeitura com apenas 15 meses de mandato para concorrer ao Palácio dos Bandeirant­es, Doria perde para França na cidade de São Paulo por 63% a 37% – a vantagem do candidato do PSB subiu quatro pontos em relação ao levantamen­to anterior. Na capital, a rejeição a Doria é de 52%, ante 22% de França. Na Região Metropolit­ana, França também ganha: 56% a 44%. Já no interior do Estado, Doria vence com 58% dos votos válidos, ante 42% do adversário.

O Ibope entrevisto­u 2.002 pessoas nos dias 26 e 27 de outubro de 2018. A margem de erro estimada é de dois pontos para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%, o que quer dizer que há uma probabilid­ade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerad­a a margem de erro.

Disputa. Desde 1998, quando o então governador Mario Covas (morto em 2001) conseguiu se reeleger após travar uma batalha histórica contra Paulo Maluf, a eleição estadual em São Paulo não era tão acirrada. Naquele ano, a vitória foi de virada e apoiada no antimalufi­smo. Agora, 20 anos depois, os candidatos chegam emparelhad­os no dia da votação com discursos que remetem, mais uma vez, ao sentimento do “contra”.

Doria se apoiou na força do antipetism­o e na popularida­de do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL). Já França explorou a crescente rejeição ao PSDB, que governou o Estado desde Covas (1995), e do próprio exprefeito tucano, que descumpriu a promessa de ficar os quatro anos de mandato na capital.

A disputa aberta entre os adversário­s às vésperas da definição provocou nas últimas três semanas mais um ponto em comum com a eleição de 1998: os ataques mútuos e a transforma­ção dos debates em ringues. Apenas um dos quatro encontros realizados ao longo do segundo turno não foi pautado por ironias e acusações entre os candidatos, no velho estilo praticado por Covas e Maluf.

O mesmo pôde ser observado nos comerciais e programas eleitorais veiculados no rádio e na TV pelas campanhas. Disputando voto a voto o comando do Estado, os dois candidatos abdicaram de priorizar a exposição de propostas para apontar ao eleitor o que consideram falhas de seu oponente. O tucano chegou a lançar um site onde promete listar a “verdade sobre Márcio França”.

A bandeira branca foi estendida uma só vez, no debate promovida pelo SBT horas após um vídeo íntimo atribuído a Doria começar a circular nas redes sociais. “Esse foi, sem dúvida, o ápice de uma campanha pautada pelo baixo nível, pelo ódio, medo e rejeição. O que se viu na disputa nacional também se replicou aqui. Menos medo e rejeição, mas muito ódio dos dois lados. Uma escolha lamentável, que priorizou agressões e deixou de lado o aspecto programáti­co”, diz o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universida­de Mackenzie.

Foi também em uma só oportunida­de – no debate da TV Globo – que Doria e França resolveram defender o legado das gestões Geraldo Alckmin, tentando faturar a partir de programas populares, como o Bom Prato e o Poupatempo. Todo o resto do tempo, os adversário­s pregaram mudança, mesmo ambos representa­ndo a continuida­de dos governos e ações do PSDB.

Nesse aspecto, Doria foi mais longe. Abandonou o padrinho político para colar sua imagem na de Bolsonaro e pregar, como estratégia única neste segundo turno, o voto Bolsodoria. França, classifica­do pelo tucano como “esquerdist­a” por ser filiado ao PSB, sofreu para manterse neutro e fugir do rótulo de petista, por ter apoiado o PT no passado.

Véspera. Ontem, Doria concentrou seu último dia de campanha na capital, onde apresenta o pior desempenho nas pesquisas. O ex-prefeito fez caminhada no Capão Redondo, na zona sul, e no Tatuapé, na zona leste, onde criticou o adversário, a quem havia tentado vincular a responsabi­lidade pela divulgação do vídeo com cenas de sexo. “Foram quase 30 dias de massacre”, disse.

Enquanto isso, França cancelou a agenda de campanha para se recuperar de uma pneumonia. Ele visitou a mãe em São Vicente, cidade do litoral sul onde forjou sua carreira política. À noite, ele divulgou um vídeo nas redes sociais comemorand­o sua subida na pesquisa. “Tenho muita esperança de que amanhã (hoje) São Paulo vai votar com a verdade.”

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Capão Redondo. Tucano João Doria durante ato de campanha na zona sul da capital
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LUCAS BAPTISTA/ESTADÃO São Vicente. Márcio França, candidato do PSB, participa de caminhada no litoral paulista
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