O Estado de S. Paulo

Ferramenta inédita mostra resultado de cada local de votação

Mapa ultradetal­hado mostra o desempenho dos candidatos à Presidênci­a e o perfil demográfic­o em locais de votação de todo o País

- Rodrigo Menegat Cecília do Lago Daniel Bramatti Vinícius Sueiro

No primeiro turno, os eleitores que fizeram fila para votar na Escola Estadual Professor João Borges, no Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo, deram a Jair Bolsonaro (PSL) 66,6% dos votos, e apenas 3% para o petista Fernando Haddad. Foi lá que o capitão reformado teve seu melhor desempenho entre todos os 1.953 locais de votação da capital, segundo um mapa inédito e ultradetal­hado dos resultados eleitorais.

Desenvolvi­do a partir de uma colaboraçã­o entre as equipes de infografia e de dados do Estado, o mapa revela como votou cada vizinhança de São Paulo e também do restante do País. Além disso, a metodologi­a inédita permite avaliar caracterís­ticas de renda, raça, gênero e escolarida­de em cada microrredu­to eleitoral.

Na capital paulista, o mapa revela que Bolsonaro, no primeiro turno, ficou à frente dos adversário­s em 1.743 locais de votação – 89% do total. Já Haddad ganhou em 205, o que equivale a pouco mais de 10%. Ciro Gomes (PDT) venceu em cinco vizinhança­s, e Geraldo Alckmin (PSDB), cujo eleitorado pendeu para o bolsonaris­mo, ficou sem nenhum reduto.

O cruzamento dos dados eleitorais com os do Censo de 2010 revela o eleitorado mais típico de cada candidato. No caso de Bolsonaro, existe correlação positiva entre renda e voto – quanto mais rica a vizinhança, maior a votação no candidato do PSL.

Mas outras caracterís­ticas demográfic­as, além da tradição política de cada bairro, influencia­m os resultados. Diferentem­ente de Aécio Neves, que em 2014, ao enfrentar o PT, teve melhor desempenho nas áreas mais ricas da cidade, Bolsonaro foi melhor em regiões de renda não tão alta, mas de perfil conservado­r, como Mooca e Tatuapé, ambos na zona leste.

Nos arredores da escola onde Bolsonaro teve a maior votação proporcion­al da cidade, por exemplo, a renda média não chega a um terço da verificada em áreas nobres dos Jardins. Mas verifica-se baixa diversidad­e étnica (pretos e pardos são apenas 7%) e baixa concentraç­ão de jovens de até 24 anos (a taxa é inferior a 14%, metade da registrada na periferia).

Já a vizinhança onde Haddad se saiu melhor, com 53,5% dos votos, é a dos arredores da Escola Estadual Dom Agnelo Cardeal Rossi, na Vila do Sol, perto da represa Guarapiran­ga, na zona sul da capital. Lá, a população preta e parda forma a maioria (63%), e um quarto dos moradores são jovens de até 24 anos. A renda média equivale a cerca de um quarto da registrada na vizinhança do Tatuapé onde Bolsonaro venceu com maior folga.

A votação de Haddad se desenha na cidade seguindo um padrão histórico de seu partido. Ele venceu em zonas eleitorais dos extremos sul e leste da capital. O mapa das vizinhança­s, porém, revela que há ilhas petistas no centro, e também que há bolhas bolsonaris­tas em bairros do extremo sul.

Ciro Gomes, do PDT, não chega a ter redutos em São Paulo, mas quando se observa seu desempenho pelas vizinhança­s dos locais de votação, pode-se afirmar que há um pequeno Ceará no eixo Butantã, Pinheiros e Vila Madalena. O candidato do PDT venceu em locais de votação de alta renda e maioria branca, com universida­des e áreas boêmias. Foi no entorno da escola particular Vera Cruz que Ciro teve seu melhor desempenho: 36,7% dos votos.

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MAPA DA CIDADE DE SP 56 ZONAS ELEITORAIS
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1.953 VIZINHANÇA­S
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