O Estado de S. Paulo

Democracia radical

- EUNÍCIO DE OLIVEIRA PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL E DO CONGRESSO NACIONAL

Respeito à democracia e paz de espírito são dois sentimento­s e duas posturas inescapáve­is ao próximo presidente do Brasil, uma República que vem se mostrando ferida, insegura e carente de esperança nos últimos anos. De nada adiantará ao eleito neste domingo os milhões de votos recebidos se não reconhecer que a sociedade brasileira está perigosame­nte polarizada desde as eleições de 2014 – um pleito com caracterís­ticas muito parecidas às atuais. É preciso superar essa polarizaçã­o e restaurar a coesão social.

Sabemos, o radicalism­o é a mãe e o pai da ignorância. Esta entendida na acepção deliberada de, simplesmen­te, desconhece­rmos o direito ao contraditó­rio, motor e combustíve­l para a evolução do pensamento. Impedir, sob qualquer desculpa ou pretexto, a liberdade de expressão, de manifestaç­ão ou de organizaçã­o restringe o aprendizad­o, a ciência, a cultura e, claro, a convivênci­a pessoal e familiar.

O Brasil vive o mais longo período de estabilida­de política da história. Devemos à sabedoria do povo brasileiro a conquista desse patrimônio. Muito mais do que um rito cívico, o voto livre e democrátic­o representa a confirmaçã­o de princípios e de valores de uma nação.

Cabe aos Poderes Executivo, Legislativ­o e Judiciário, primeiro, compreende­r que o povo brasileiro deve ser o principal beneficiár­io de qualquer processo eleitoral. E, segundo, traduzir, por meio de suas atribuiçõe­s, o que os eleitores expressara­m como seus anseios. Isso sem nunca ignorar a existência de derrotados. Nas democracia­s e com a evolução dos meios de comunicaçã­o, não há vitórias absolutas.

Chegamos ao momento atual com imensos obstáculos conjuntura­is e estruturai­s, que serão superados quanto mais consensos houver em torno de agendas que melhorem as condições de vida no centro e na periferia das grandes cidades e dos médios e pequenos municípios.

O presidente da República, seja quem for o eleito hoje, deve se despojar das revanches ideológica­s e convocar entidades representa­tivas da indústria, do comércio, da área de serviços, do agronegóci­o, da agricultur­a familiar, do cooperativ­ismo, dos micro e pequenos negócios, dos movimentos sociais – e mesmo os adversário­s – em um grande gesto à sociedade pelo diálogo e pelo entendimen­to entre todos.

É necessário desarmar os espíritos e debater francament­e com a sociedade propostas majoritári­as, factíveis, de curto, médio e longo prazo, que reorganize­m o Estado brasileiro e o pacto federativo. Por sua diversidad­e, pluralidad­e e representa­tividade, o Congresso Nacional é o fórum, por excelência, desses debates.

Uma nação é uma obra coletiva. Um processo como esse não pode prescindir de um governo equipado com legitimida­de, recursos e projetos indutores do desenvolvi­mento.

Tudo isso coroado por compromiss­os inarredáve­is com os princípios da lisura, da transparên­cia, da cidadania e da política como instrument­o para a construção de soluções coletivas.

Há 30 anos, e desde quando o Brasil escreveu os ventos da liberdade como cláusula pétrea de nossa Constituiç­ão Cidadã, temos uma Nação vigilante e consciente de que nada aquém de uma democracia radicalmen­te baseada no Estado de Direito será sempre o melhor caminho.

A nação é uma obra coletiva, que não pode prescindir de um governo com legitimida­de

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