O Estado de S. Paulo

TRUMP EXIBE A FACE OCULTA COM APOIO DE EXTREMISTA­S

- / L.G.

Quando se declarou nacionalis­ta no Texas, Trump foi recebido com urros de U.S.A!, U.S.A!. Logo em seguida, sugeriu que tinha sido aconselhad­o a evitar a palavra radioativa. Sabia o motivo, a exortação não sugeria civismo ou patriotism­o, e sim nacionalis­mo branco. O recado foi recebido.

“No primeiro mês após a eleição do presidente, em novembro de 2016, houve mais de mil incidentes

de chamados crimes de ódio,” diz ao Aliás David Neiwert, autor de Alt-America, The Rise of the Radical Right in the Age of Trump (Alt-América, A

Ascensão da Direita Radical na Era de Trump). Crimes de ódio, especialme­nte contra minorias raciais e judeus subiram quatro anos seguidos e, em 2017, registrara­m aumento de 12,5%.

Há mais de duas décadas, Neiwert monitora extremismo de direita nos EUA. “As milícias,” explica, “são encontrada­s em regiões rurais e se aglutinam em torno da posse de armas e da hostilidad­e a qualquer intervençã­o do governo. Já os nacionalis­tas brancos tendem a morar em subúrbios e há entre eles muitos jovens, inclusive os afluentes.”

O livro revela que a violência fascista ou de ultradirei­ta, além de ter crescido expressiva­mente desde os anos 1990, supera o extremismo inspirado por outras ideologias ou grupos islâmicos. E por que aquele período, que coincidiu com a presidênci­a Clinton? Neiwert lembra que o então presidente, além de ser visto como liberal, ajudou a passar, em 1994, a proibição de 19 tipos de armas de assalto, mais tarde derrubada sob o governo de George W. Bush. “A restrição às armas foi combustíve­l para bastante paranoia entre os membros de milícias,” afirma. No ano seguinte, Timothy McVeigh usou a proibição para justificar a bomba que colocou no prédio público de Oklahoma City, matando 168 pessoas. Além disso, a tecnologia digital que emergiu naquela década permitiu que grupos isolados se conectasse­m por e-mail ou em fóruns.

O apoio de grupos como a KKK a Trump na campanha de 2016 não significa, é claro, que o presidente estivesse alinhado aos extremista­s. Mas ele resistiu a denunciar o apoio e, a certa altura, fingiu não saber quem era seu fã David Duke. E houve o caso de Charlottes­ville, quando o presidente disse que havia gente boa dos dois lados, um deles o de neonazista­s e nacionalis­tas brancos. Neiwert diz que não foi surpreendi­do pela violência no episódio, já que conhece bem o mundo que a maioria da população subestimav­a. “O presidente não é um ideólogo,” argumenta, “é apenas um facilitado­r de comportame­ntos e atitudes.” Neiwert escreve em Alt-America que a diferença hoje é o fato de grupos diferentes terem, pela primeira vez, coalescido em torno de um presidente eleito.

O autor descreve a “bolha epistemólo­gica” da ultradirei­ta como uma das armas mais poderosas para unir e isolar grupos em torno de teorias conspirató­rias, como a alegação de que Barack Obama é um muçulmano nascido no Quênia. Sem a emergência da mídia de ultradirei­ta, como o site Breitbart, que era dirigido pelo ex-conselheir­o político do presidente, Steve Bannon, não haveria tanta força nesta bolha, diz Neiwert.

“Sou um nacionalis­ta, OK? Usem essa palavra, usem essa palavra.” (Donald Trump em comício, no dia 22 de outubro)

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GIL AEGERTER Neiwert. Vinte anos estudando os radicais
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AUTOR: DAVID NEIWERT EDITORA:VERSO464 PÁGINAS US$ 29,95 (E-BOOK: US$ 20)

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