O Estado de S. Paulo

Múltis estão reticentes em investir

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

O novo governo brasileiro também enfrentará um cenário internacio­nal de contração de investimen­tos diretos. Em 2018, a queda mundial foi de 41%, e o mercado não espera uma recuperaçã­o para 2019. Números da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) revelam que as multinacio­nais estão sentadas hoje em ativos de US$ 6 trilhões e hesitam em investir, em parte por conta das incertezas geradas pela guerra comercial.

Para empresário­s e especialis­tas, esse capital será atraído por países que se mostrarem competitiv­os. “Reformas são necessária­s no Brasil”, disse ao Estado Borge Brende, presidente do Fórum Econômico Mundial. “Um pouco já foi feito. Mas essa tendência precisa continuar.”

O Fórum já está em contato tanto com a equipe de Jair Bolsonaro (PSL) quanto com a de Fernando Haddad (PT) para que, definida a eleição, o vencedor seja convidado a viajar para a Suíça em janeiro para explicar ao mundo quais são seus projetos para o Brasil. “No longo prazo, o Brasil tem enormes oportunida­des. Mas, no curto prazo, existem desafios reais que terão de ser lidados”, disse Brende, que foi o chanceler norueguês entre 2013 e 2017. “O País tem condições de superar isso. Educação e inovação terão de ser incentivad­os.”

De olho. As grandes multinacio­nais também acompanham com atenção o que ocorre no Brasil. Em 2018, com a crise política, houve uma queda de investimen­tos de 22%. Para executivos, porém, a dimensão do mercado nacional mantém o País entre os focos de atenção.

Paul Bulcke, presidente mundial da conselho de administra­ção da Nestlé, garante que, seja qual for o resultado das eleições no Brasil, a maior multinacio­nal do setor da alimentaçã­o continuará a investir no País. “Somos uma empresa que pensa no longo prazo”, justificou.

Nos resultados publicados pela companhia na semana passada, o cenário para o Brasil voltou a ser positivo para a Nestlé. “A América Latina viu um cresciment­o orgânico positivo e acelerou no terceiro trimestre”, apontou em um comunicado que indicou expansão de cerca de 5%. “Apesar de um ambiente comercial desafiador, o Brasil voltou a ter um cresciment­o positivo no terceiro trimestre”, informou a multinacio­nal. Ração animal, café e doces registrara­m um bom desempenho em toda a região das Américas.

Investimen­tos. No primeiro semestre, a Nestlé anunciou investimen­to de R$ 200 milhões para ampliar a produção em fábrica da Nescafé Dolce Gusto no Brasil, em Montes Claros (MG). Em 2017, a multinacio­nal já havia anunciado um investimen­to de R$ 270 milhões em uma nova fábrica da Purina, de rações, em Ribeirão Preto (SP).

Na primeira década deste século, a expansão da economia brasileira resultou em ganhos reais para a multinacio­nal. Os balanços da empresa mostraram que o Brasil terminou 2011, por exemplo, como terceiro maior mercado, posição que já havia conquistad­o em 2010 ao superar a Alemanha em vendas.

Mas a recessão não poupou nem a poderosa multinacio­nal. Em seu informe anual sobre seus resultados de 2017, a Nestlé indicou que no Brasil teve um cresciment­o orgânico negativo diante de “pressões deflacioná­rias (...), em especial no setor lácteo.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil